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Helder Moutinho e a renovação do Fado

Entrevistas - Novembro 17, 2008
"Que fado é este que trago" é o segundo trabalho discográfico do fadista, que inclui 14 temas originais e sucede a "Luz de Lisboa" com o qual, em 2004, o intérprete arrebatou o Prémio Amália Rodrigues para melhor álbum

O fado não foi vocação de menino. Nesses tempos, era mais dado à música rock. O destino só se revelaria aos 18 anos, quando Hélder Moutinho começou a escrever e ganhou coragem para mostrar uns versos de um fado a quem sabia do assunto. Desafiaram-no: então, por que não cantas tu? E desde essa altura não tem feito outra coisa. "Que fado é este que eu trago" é o seu mais recente trabalho. Está disponível a partir desta segunda-feira.

O novo disco, que reúne 14 temas, sucede a "Luz de Lisboa", de 2004, que levou o júri dos prémios Amália Rodrigues a atribuir--lhe a distinção de Melhor Álbum desse ano. Ciente da importância do galardão, e das expectativas que o mesmo acaba por gerar em relação a trabalhos futuros, Hélder Moutinho admite que o prémio de há quatro anos redobrou--lhe as responsabilidades.

Como foi voltar a gravar depois de ter recebido um galardão tão importante na área do fado?

Foi um peso, porque, depois de fazer um disco destes, pensei que o próximo teria de ser melhor, ou, pelo menos, não poderia ser inferior. Ter um disco premiado é uma responsabilidade grande. Tive de ter tempo para compor e para encontrar as canções certas para o conceito que queria criar no disco.

E que conceito é esse?

Queria contar uma história. Gosto que cada disco tenha um princípio, um meio e um fim. Este fala da história do fado no nosso imaginário e da história de cada um de nós.

Então, este "Que fado é este que trago" tenta contar a sua visão sobre a história do fado?

Nasci num concelho vizinho da capital (Oeiras), no seio de uma família tradicionalmente fadista (é irmão de Camané e de Pedro Moutinho). Por isso, entendo que, não sendo um perito em história do fado, posso também contar uma versão imaginária sobre ele.

De que forma materializa esse seu conceito?

Começo com os temas tradicionais, um fado mouraria, e, depois, passo para o fado Isabel tradicional...

Considera-se um renovador?

Sim.Um renovador que se preocupa com a tradição do fado. Para mim,o fado, como qualquer música popular, sofre uma série de influências. Portanto, partindo dessas bases, tentei desenvolve- -lo mais um bocado e fazer aquilo que é o percurso natural das coisas. No fundo, qual é o fado que trago? Qual é a minha forma de estar no fado, no que acredito? Este é o primeiro tema do disco.

Neste trabalho, Hélder Moutinho tanto é autor de letras como de músicas. "Labirinto ou não foi nada", um poema de David Mourão Ferreira, por exemplo, foi musicado por si. Como surgiu a oportunidade?

Estava a apresentar aos músicos que me acompanham um tema novo que tinha composto, mas não sabíamos que letra colocar. De repente, peguei num livro de poemas do David Mourão Ferreira, que andava a ler, e vi lá uns versos de que gostei muito. Percebi que ligavam bem com a música que tinha composto.

Não tendo formação musical, como descobriu que, afinal, era capaz de compor?

Foi importante para mim, desde a infância, ter acompanhado sempre os meus pais até às casas de fado. O facto de ser o irmão do meio deu-me alguma liberdade. Os meus pais sempre foram fantásticos, sempre me levaram aos fados, às tertúlias, às matinés. Tive oportunidade de ouvir ao vivo pessoas como Alfredo Marceneiro, Amália Rodrigues e muitos outros. Isso ajudou-me a perceber um bocado o ambiente, o conceito e a forma como as pessoas lidavam à volta do fado. Grandes músicos, grandes instrumentistas, compositores, poetas. E então chegou a altura de eu começar a escrever e a compor.

Primeiro, surgiu-lhe o gosto pela escrita?

Sim. Tudo começa primeiro pela vontade de escrever. Muito mais do que a vontade de cantar. Escrevo desde os 16 anos. Tenho temas escritos com 16, 17 anos. A composição musical só iniciei mais ou menos quando fiz o "Luz de Lisboa".

O que acha essencial num fadista?

Para se ser fadista tem de se ser honesto. Temos de ser sérios, acima de tudo.

O fado é uma canção intimista?

Não. Tanto pode ser cantado para para cinco pessoas como para cinco mil. Qualquer que seja a circunstância, pode sempre surpreender, pode acontecer algo de que ninguém está à espera. É essa a grande magia do fado.



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