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Amália Rodrigues, uma imagem construída com inteligência

Arquivo - Novembro 10, 2009
O historiador Tiago Baptista considera que a fadista Amália Rodrigues revelou inteligência na forma como geriu e construiu a sua imagem no cinema...

Tiago Baptista, 33 anos, conservador do Arquivo Nacional das Imagens em Movimento/Cinemateca Portuguesa (ANIM), é autor do livro "Ver Amália. Os filmes de Amália Rodrigues", editado recentemente pela Tinta-da-China.
"A imagem da Amália era algo cuidadosamente construído e cuidado pela fadista. Isto é um elogio pois revela inteligência de uma mulher que soube gerir a sua carreira e fazer da sua imagem, até certo ponto, aquilo que ela quis", disse à Lusa o investigador.

Tiago Baptista afirmou que "o cinema foi caixa de ressonância da popularidade da fadista", que "progressivamente foi revelando talento de actriz apesar do papéis ingratos e mal construídos que lhe davam".
"As suas personagens - prosseguiu - tinham quase sempre pouca densidade psicológica e o público estava já à espera de ver na tela a Amália Rodrigues".

Um fenómeno de "transferência", qualificou Tiago Baptista, explicando: "Havia uma transferência da Amália figura pública para a personagem de ficção".
O historiador sublinhou que a "naturalidade" da interpretação de Amália Rodrigues no cinema é a recusa de todo um trabalho genérico de representação, daí parecer "liberta dos tiques e convenções da época".

Refere o autor que apesar de lamentar várias vezes interpretar sempre fadistas no cinema, Amália, "tal como não conseguia fazer playback", também não conseguiu deixar de "investir a sua própria personalidade nas personagens cinematográficas".
"A fadista, por muito que recusasse 'fazer de Amália', a vontade de emprestar toda a espontaneidade e naturalidade às suas personagens condenava-a sempre 'a fazer de Amália'", sublinhou.

Para o conservador do ANIM, "o cinema é meio mais fácil e mais óbvio para perceber o carácter construído dessa imagem, até porque nos filmes somos levados a confrontar aquilo que sabemos da imagem pública da Amália com as personagens que vemos na tela".
"É - enfatizou -, no intervalo entre uma coisa e outra onde se joga todos os estereótipos e clichés que associamos ao fado e à figura da fadista".

O livro é uma análise da curta carreira cinematográfica da fadista que quando chegou ao cinema, em 1947, em "Capas negras", de Armando Miranda, "era já muito popular e conhecida" e daí o interesse dos realizadores e produtores.
"As ilhas encantadas" (1965) de Carlos Villardebó foi o último filme em que participou não desempenhando um papel de fadista.

A passagem dos dez anos sobre a morte da fadista foi "um bom contexto" para o "obrigar a escrever", pois "as ideias já vinham de trás".
"Vendaval maravilhoso" (1949), de Leitão de Barros, foi o primeiro filme de Amália que o autor viu, tendo ficado "impressionado" pelo seu desempenho, o que lhe despertou a curiosidade.

"Ver Amália" levou seis meses de investigação. Autor de vários artigos e títulos sobre cinema, o investigador tinha editado, anteriormente, "A invenção do Cinema português".




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