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Aldina Duarte: Antigamente crescia-se, enquanto fadista, nas casas de fado...

Entrevistas - Outubro 25, 2014
A propósito do seu concerto em Oviedo, Aldina Duarte esteve à conversa com Miguel Ángel Fernadez, locutor de rádio e um aficionado do fado.

- Tem fama de ser uma fadista séria e rigorosa. Concorda com essa definição?
Sou uma profissional muito rigorosa, sim, na véspera de concertos não estou nem falo com ninguém, preciso de recolhimento antes dos concertos, gosto de ter esta boa consciência: se um concerto não correr bem, eu sei que trabalhei e fiz tudo o que estava na minha mão para que fosse o melhor de sempre. Acredito que tudo o que fazemos e dizemos levamos para a nossa arte, daí o cuidado com tudo, desde a alimentação, ao sono, até à música que ouço e ao que leio. E, sobretudo, na minha vida privada preciso de estar com as minhas pessoas, as que me ajudam a pensar e a sentir mais e melhor, tudo isto é determinante no fado que canto e na maneira como estou na minha profissão de fadista. A mim própria não me levo a sério, mas levo muito a sério aquilo que faço. Quanto menos ego a cantar maior a arte.

- Acha que falta um bocadinho de cultura, rigor, seriedade no fado atual? Como é que definiria este momento do fado?
O fado atual é bom por ser atual, seria absurdo alguém com 20 ou 40 anos no século XXI querer parecer-se com alguém da mesma idade nos anos 60 ou 70, soaria a falso, no mínimo. A música do fado é uma arte musical que representa o tempo presente para quem o canta e ouve. E é intemporal no caso das grandes obras de arte.

- Acha que a declaração da UNESCO foi boa para o género?
Foi boa, sim. Neste momento já há um centro de documentação extraordinário, no Museu do Fado, de uma arte centenária e de tradição oral, o que não é nada fácil. Ao nível da divulgação nacional e internacional a projeção do fado é ainda mais abrangente graças ao prémio.

- Cómo é que definiria a sua forma de cantar.
É honesta e, gostando-se ou não, é singular. Mas, confesso, não sou boa em auto avaliações artísticas.

- O seu novo disco vai seguir a linha dos anteriores? Só fado e nada mais do que fado?
Cantarei uma história de amor, daí o título "Romance", com três personagens, e é todo escrito pela poetisa Maria do Rosário Pedreira, nas melodias do fado tradicional.

- Tem um fado predileto e sagrado?

Fado Menor e fado Cravo.

- Tem muitas outras inquietudes, a escrita, o blog, as entrevistas e outros “oficios de fado”. Pode explicar qual é a sua atividade nisso?
Vivo para aprender, antes de tudo, a minha inquietude e as minhas diversas atividades são a consequência natural desta minha maneira de ser e estar na vida.

- É verdade que não gosta que os espectadores batam palmas enquanto canta? (Eu também não...)

O meu repertório não estimula esse comportamento, não me lembro, sequer, de alguma vez me ter acontecido.

- Há alguma coisa que a gente ou os mídia esqueçam quando se fala da música de Lisboa?
Acho que neste momento há uma curiosidade e cuidado maiores da parte dos bons jornalistas, sendo que é uma arte tão antiga e unicamente portuguesa, mas é um mundo que estará sempre por descobrir até por quem está artisticamente ligado ao fado.

- Acho que agora há muitas produções musicais e fadistas que "saem até por debaixo das pedras", muito parecidas, carreiras demasiado rápidas.... e nem toda a colheita é boa. Concorda?
O mundo muda e o fado também, não fosse a arte um dos retratos humanos mais sensíveis... Antigamente crescia-se, enquanto fadista, nas casas de fado, mais protegidos, alguns tornaram-se artistas, dentro e fora das casas de fados, outros mantiveram-se exclusivamente nas casas de fado, tudo isto é normal na história desta arte. Atualmente, todos os novos fadistas mais famosos também passaram pelas casas de fado, mas rapidamente escolheram os concertos porque tiveram a possibilidade e vontade de seguir esse caminho. Mas há outros, menos conhecidos, que fazem ambas as coisas e quem, não sendo conhecido, esteja a cantar nas casas de fado. Ainda é cedo para avaliar se estas escolhas são precipitadas ou erradas, são outros tempos e outros caminhos. Certo é, seguramente, uma arte de tradição oral ter esta pujança em pleno século XXI. Bons artistas com pouco sucesso e maus artistas com muito sucesso é uma parte da história das artes da humanidade, e isso pode vir a acontecer, ou não, com alguns de nós, dos que estão no começo ou a meio, logo se verá. Interessa-me muito mais o caminho do que os resultados.

- Os músicos que traz são...? São eles os únicos a garantir o seu som – (Neto, Proença...)
Habitualmente trabalho com o Carlos Manuel Proença, José Manuel Neto, Paulo Parreira e Rogério Ferreira. Desta vez vou com José Manuel Neto, guitarra portuguesa, e Rogério Ferreira, na viola. O meu som é a guitarra e a viola, juntos formamos um trio com personalidades artísticas muito cúmplices, o meu fado vive da interpretação, que resulta do improviso melódico e rítmico, da voz e dos instrumentos, fazendo sobressair a musicalidade e o sentido das palavras, tudo junto é aquilo a que chamo a Alma.

- Esperava algum dia ser protagonista na capa da Vogue? Gosta da importância da moda? Com um xaile preto chega para o fado ou é preciso “haute couture”?
Nunca penso ser capa de nada. Acho muito importante sentir-me confortável, bonita e elegante a cantar. Na casa de fados onde canto, no Sr Vinho, uso sempre xaile, no palco não, porque tenho uma das mãos ocupadas com o microfone. A imagem é importante no sentido em que nunca se deve sobrepor ao que estou a cantar, quer para bem ou para mal, isto é, se estou demasiado vistosa ou desleixada isso pode fazer com que as pessoas se distraiam do que estou a cantar, que é o essencial. Miguel Ángel Fernadez


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