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Desculpa, Amália, o fado não é “uma seca”

Arquivo - Outubro 08, 2015
Amália morreu a 6 de Outubro de 1999 e eu nunca a vi cantar ao vivo. Nunca me perdoarei por isso.

Cresci a achar que o fado era coisa de velhos. Era uma canção triste e melancólica, com vozes bem diferentes daquelas que estava habituada a ouvir noutros géneros musicais. Quando, na família, se ouvia fado, eu, como tantos da minha idade, achava “uma seca”. Não percebia as letras, não percebia porque se vestiam de cores escuras e com longos xailes. Perante a explosão de cores e ritmos dos ofegantes anos 80 e 90, o fado era justamente isso: “uma seca”.

Eu queria era ouvir Doors, Janis Joplin, Talking Heads, Guns, Queen, Cure, DuranDuran, R.E.M., Depeche Mode, David Bowie, Michael Jackson, Madonna, Rolling Stones... E grunge e os amigos de Seattle. E os Radiohead. E depois a electrónica. No meio disto tudo, não havia espaço para o fado. Mas havia espaço para Amália Rodrigues. Sim, cantava fado - o tal fado que era “uma seca” - e usava roupas pretas e xailes compridos. Mas era como se levitasse. Era como se fosse uma gigante e eu, só de a ver, sentia-me tão pequenina. Nunca disse aos meus amigos que adorava a Amália.

Não era cool, e nesta altura da vida queremos é ser mais um entre os outros. Mas lembro-me de a ouvir cantar tantas e tantas vezes, sobretudo em casa da minha avó. E lembro-me do dia em que o meu tio, que sempre a adorou, me mostrou um novo álbum, no qual Amália cantava um tema imortalizado pela cantora e política grega Nana Mouskouri, “Aranjuez MonAmour”. Pesquisei todas as palavras desta música. procurei entendê-las todas.

Perdi a conta às vezes que a ouvi. Ainda hoje a oiço. E ainda hoje me emociona. Tal como emociona “Ay Mourir Pour Toi”, escrita por Charles Aznavour, e tantas outras cantadas por ela. Amália morreu a 6 de Outubro de 1999 e eu nunca a vi cantar ao vivo. Nunca me perdoarei por isso. Mas, entretanto, já não acho o fado “uma seca”.Raquel Carrilho


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