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Fábia Rebordão: "É através do fado que desabafo todas as noites"

Entrevistas - Setembro 27, 2016
Depois de cinco anos de grandes mudanças, Fábia Rebordão lança novo disco 'Eu'.

Levou cinco anos para lançar um novo disco. O que andou a fazer durante este tempo? 

Estes foram cinco anos de reflexão, em que senti que precisava de parar um bocadinho. Estive de facto afastada do estúdio, mas não estive afastada dos palcos. Andei sempre a cantar. Foi um tempo de que precisei para me encontrar outra vez. Houve uma grande mudança em mim, tanto por dentro como por fora, e precisei deste tempo para me redescobrir como pessoa, como mulher, mas também musicalmente.

E o que é que andou a fazer para se redescobrir?

Estive envolvida em várias experiências. Andei a cantar não só com o Jorge Fernando, mas também sozinha, estive noutros países, participei num festival em Cabo Verde, trabalhei com o Dino D’Santiago, e isso ajudou-me também a descobrir-me musicalmente. Estes cinco anos foram o tempo de que precisei para decifrar aquilo que queria fazer.

Quer dizer, então, que encontrou um novo ‘eu’?

Sim, existe um novo ‘eu’. É verdade que ainda tenho muito que aprender, mas até a minha forma de cantar acho que está diferente. Este novo ‘eu’ é um ‘eu’ que me deixa serena, confiante e pronta para começar a desbravar o mundo.

No último ano, muito se falou das mudanças, sobretudo físicas, da Fábia Rebordão, que perdeu 45 quilos. Até que ponto isso foi inspirador para si?

Foi algo bastante inspirador, porque perder peso era uma coisa que eu desejava muito desde pequenina mas que nunca tinha conseguido fazer. Sempre fui obesa e nunca tive sucesso de todas as vezes que tentei inverter essa situação. Finalmente, agora consegui.

E que mudanças é que isso trouxe para a Fábia mulher?

Hoje posso dizer que já não sou uma pessoa obcecada com dietas. Esse assunto para mim é agora uma coisa pacífica. Estou assim há já cinco anos e agora estou de bem comigo própria. Estou muito feliz e equilibrada e as coisas fluem muito naturalmente.

No vídeo ‘Falem Agora’, percebe-se que a Fábia se afastou de um look mais clássico e optou por um outro, mais rebelde, com o cabelo rapado. Sente que o seu fado também precisava dessa rebeldia?

Sim, mas sempre tive essa rebeldia dentro de mim. Aliás, quando era gordinha, sempre mudava aquilo que conseguia mudar, sobretudo do pescoço para cima [risos]. Muitas vezes mudava o meu cabelo e a minha maquilhagem. Em tempos, já tinha usado o cabelo rapado de um lado e comprido do outro. Mas isto sempre foi intrínseco a mim. Nunca tive medo de arriscar. E acho que neste disco as pessoas finalmente me veem como quero estar.

A Fábia junta na produção deste disco dois opostos, o Jorge Fernando, um senhor do fado, e o New Max, dos Expensive Soul! Qual foi a ideia? Criar algo de novo?

Sim, exatamente. As fusões com o fado nos últimos anos têm sido muito bem feitas, desde a Mariza à Ana Moura, e queria muito fazer uma coisa que fosse minha, que tivesse a minha linhagem, que fosse o meu conceito.

Se a presença do Jorge Fernando é mais do que esperada, já a do New Max é quase improvável. Como é que ele aparece no meio disto?

O New Max é meu amigo desde os meus 18 anos. Quando o convidei, ele aceitou logo, e isso claro que me deixou muito feliz. Depois convidámos o Hugo Novo, que é o irmão do New Max, e juntos, com o Jorge Fernando, assumiram a produção. E, de facto, acho que estiveram os três em perfeita sintonia.

Esse trabalho a três acabou por dar origem a um fado mais pop, ou não?

Acho que se pode mudar a forma desde que se preserve o conteúdo. E aí tudo pode ser feito. A única coisa que queria era ter uma linha minha, que as pessoas ouvissem e que identificassem como sendo a Fábia Rebordão.

Entre os muitos compositores da nova geração neste disco, lá surge Alfredo Marceneiro. Que espaço é que o fado tradicional ainda vai ocupando na sua vida?

O fado é a peça fundamental da minha vida, e só faço esta fusão porque faz parte das minhas influências. Apenas juntei as peças-chave da minha vida. Desde menina que sempre me cultivei muito musicalmente, e esta fusão nada mais é do que todas as minha influências juntas, com o fado sempre por base. O fado é a minha inspiração e é através dele que eu desabafo todas as noites.

No seu primeiro disco já tinha contado com a participação de Lura e agora conta com o Dino D’Santiago. Que ligação é esta a Cabo Verde?

Cresci com africanos, e o lado cultural, e especialmente musical, fez parte do meu crescimento. Identifico-me muito com África e gosto sempre de ter essa musicalidade presente no meu trabalho. O Dino é um irmão para mim, até porque estivemos juntos na ‘Operação Triunfo’. O mais curioso é que esta foi a primeira vez que ele compôs para outra pessoa. No princípio ele ainda duvidou de que fosse capaz, mas resultou muito bem. Ele é maravilhoso.

Uma vez mais, volta a escrever aquilo que canta, o que não é muito habitual no fado, como acontece aqui nas canções ‘Retorno’ e ‘99’, ambas com música e letra suas. O que é que a leva a escrever?

São experiências que tenho ou que vejo acontecerem perto de mim. Claro que a inspiração não vem todos os dias, mas, às vezes, de uma pequenina coisa acaba por surgir uma história. Dá-me muito gozo escrever e compor. Até o Jorge Fernando já gravou um tema meu, e isso não me poderia deixar mais feliz.

O Jorge continua a ser uma pessoa fundamental no seu percurso!

Sim, o Jorge toca comigo diariamente na casa de fados, foi um dos produtores do meu primeiro disco, é também um dos produtores deste segundo disco, é autor de algumas músicas e é uma pessoa que me ensina diariamente.

Onde é que canta diariamente?
Na Casa de Linhares, em Alfama.

É importante não perder esse contacto?

Sim. Costumo dizer que é ali a nossa sala de ensaios. Nós ali experimentamos o que queremos cantar e temos o feedback imediato do público. Estamos de tal forma colados ao público que praticamente podemos sentir o que eles estão a sentir. A casa de fados dá-nos muito traquejo para a estrada.

As pessoas ainda falam muito de si como a menina da ‘Operação Triunfo’ e a prima de Amália Rodrigues. Entre uma coisa e outra, acha que já tem um espaço seu?

Há sempre coisas a fazer. Em relação à ‘OT’, as pessoas até já não me falam muito nisso. Da Amália falam-me mais, mas isso é uma coisa que me deixa muito orgulhosa. Mas acho que a pouco e pouco vou construindo o meu caminho e sinto que este disco me vai ajudar muito nesse processo, que vai ser um grande alicerce para mim.

Esse parentesco com a Amália Rodrigues é de alguma forma um peso ou uma pressão para si?

Lido bem com isso. Não chamaria peso, diria antes que é uma responsabilidade. É um orgulho fazer parte da família da Amália.

Em concreto, que grau de parentesco é esse?
O pai da minha avó materna era irmão da mãe da Amália, ou seja, era o tio mais novo da Amália.


Chegou a privar com Amália?
Não tive oportunidade de a conhecer, mas conheço a Celeste [irmã], que me contou muitas histórias da família, incluindo do meu bisavô.

Sente que essa sua veia fadista vem desse lado da família?

Quando comecei a cantar fado, com 14 anos, comecei a ouvir Amália, mas nunca prestei atenção àquele facto de ela ser da minha família. Acho que só quando comecei a cantar profissionalmente é que percebi o que era o fado e o peso que a Amália tinha. Lembro-me de pensar "Uau! Eu faço parte da família dela." Hoje é a minha inspiração maior e a minha influência.


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