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Tânia Oleiro - Terços de Fado

Discos - Junho 24, 2017
Museu do Fado / 2017
Esmagadoramente constituído por fados tradicionais, “Terços de Fado” é uma declaração de amor ao fado...

A música é matemática. Simplificando, desde Pitágoras que sabemos que uma determinada nota musical corresponde a uma frequência sonora e que, por exemplo, a mesma frequência multiplicada por dois continua a ser a mesma nota, embora uma oitava acima. Depois há, claro, a questão da criatividade, da alma, do sopro da inspiração, da entrega, da paixão… mas isso é outra história. Também a poesia é, de certa forma, matemática: as métricas, as rimas, a própria designação de quadras, sextilhas ou, no somatório de sílabas em cada verso, os pentassílabos, hexassílabos ou decassílabos. Depois há, claro, a questão da criatividade, da alma, etc (não é preciso repetir mais). E o fado, o nosso fado – que é tão feito de música quanto de poesia (ou ainda mais desta) e que tem muito mais regras destas do que geralmente se julga – vive sempre com a matemática lá dentro.

É sabido que dos fados primordiais que se resumiam a dois acordes, os corridos maiores e menores, se desenvolveram todos os outros, numa progressão, matemática, de acordes, dominantes, sub-dominantes, etc… E, na poesia para fado, todas as regras que é preciso cumprir – para a encaixar em cada fado tradicional e nas suas variantes – nas formas poéticas utilizadas: das antigas quadras de mote glosadas em décimas aos segredos do número de sílabas em cada verso (ou versículo) ou das especificidades próprias de um, por exemplo, fado alexandrino.

Tânia Oleiro é fadista. Tânia Oleiro é professora de matemática. E esperou quinze anos enquanto cantandeira – como se dizia antigamente – para editar este seu álbum de estreia, “Terços de Fado” (terços entendidos no sentido matemático, está bem de ver), onde interpreta quinze fados e é acompanhada por três músicos diferentes em cada cinco desses terços. Há uma matriz, ironicamente evidente e assumida, em todo o disco, sim. Mas, como atrás ficou escrito, e no caso do fado isso ainda é mais de sublinhar, muito mais que “matemática” o que este disco nos revela vem do lado da criatividade, da alma, do sopro da inspiração, da entrega, da paixão… Nestes terços, “Mouraria”, “Alfama” e “Cercanias” – que correspondem aos bairros, e arredores, das casas em que canta regularmente -, é muito bem acompanhada pelos músicos que a costumam ladear em cada uma dessas casas: Ricardo Parreira (guitarra portuguesa), Marco Oliveira (viola) e Francisco Gaspar (viola baixo); Pedro de Castro (gp), Jaime Santos (v) e novamente Francisco Gaspar (vb); Bernardo Couto (gp), José Elmiro Nunes (v) e Daniel Pinto (vb). E, a cada uma das formações e dos lugares-matriz de cada bairro, vai buscar diferentes e inesperadas inspirações.

Esmagadoramente constituído por fados tradicionais – Faia, Marinho, Jaime, Menor ou o Fado das Horas – e de outros grandes clássicos – de compositores e/ou poetas como João Linhares Barbosa, Francisco Carvalhinho, Martinho d’Assunção, um poema de Manuel de Almeida na Rapsódia de Fados de Casimiro Ramos, Frederico de Brito, Júlio Vieitas ou José Belo Marques -, “Terços de Fado” é uma declaração de amor ao fado enquanto forma de arte antiga mas que, com fadistas como ela, está em permanente renovação, rejuvenescimento, recuperação. O lindíssimo “A Nova Rosa da Mouraria”, com letra e música do já referido Marco Oliveira, é o único fado novo e original presente em todo o disco. Um fado bem enraizado na tradição e superiormente defendido pela voz de Tânia Oleiro. Uma voz – e ainda aqui não se tinha falado dela quando por ela poderíamos ter perfeitamente começado – das mais brilhantes, expressivas, personalizadas – e, mais importante ainda, moldáveis às especificidades de cada fado cantado – que o fado nos tem dado nos últimos anos. 


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