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Miguel Xavier

Discos - Outubro 22, 2018
Edição de Autor / 2018
Que o fado nasceu um dia em muitos lugares, como expressão de um sentir popular. Que entre o vai e vem de um povo que sofreu, mas soube opor às tristezas muitas alegrias.

Que o fado cantou todos os amores, sem esquecer os gestos do quotidiano. Que são muitas as geografias do fado, porque inúmeros os movimentos das gentes obrigadas a partir. Todas estas verdades, que os fadistas aprendem a sentir e a cantar, encontram-se reunidas neste primeiro disco de Miguel Xavier, nascido em Guimarães e que se fez fadista.
Camané


Miguel Xavier, licença para cantar

Dizem-me que, de muito pequenino, se esticava na cama ao lado da avó, um transístor sintonizado para uma rádio fado, pousado entre os dois. O Miguel Xavier aprendia, literalmente, todos os fados.
Quando o Miguel Amaral me levou a ouvi-lo, ele teria 19 anos. Fiquei tão siderado como quando ouvi o Camané então mais ou menos da mesma idade. Haverá quem “nasça para o fado” ou quem por lá viva, apanhando-lhe jeitos e tiques, mas o que reacende a identificação de uma voz que só pode e só deve ser do Fado é aquela flexibilidade melódica e aquele pouco de ar que mal se sente no som, mas que marca a diferença entre os melismas do Fado, seus estilos e variações, e os do Cante Flamenco, por exemplo. Muito boas vozes não conseguem nunca produzir a diferença que este som tem.
Miguel Xavier canta quase hirto, hierático, concentrado, sem gestos nem jeitos nem sinais de legitimação marialva, bairrista ou fadisteira. É apenas um músico integral. Nem fusões, nem infusões, nem vícios. Canta maravilhosamente e está só, por dentro daquilo que canta. Basta comparar o trecho de Alexandre O’Neill / Filipe Teixeira (produzido na melhor tradição daquele fado que Amália literou e revolucionou) com o clássico “Velhinho Fado Menor” (com versos da discreta Maria Manuel Cid) para confirmar o seu profundo conhecimento e autenticidade. São coisas que fazem do Fado a sina de alguns. São esses os poucos que cantem o que cantem, cantam sempre de algum modo Fado, ou que quando cantam Fado o exponenciam e elevam.
À volta de Miguel Xavier está uma espécie de “família” mais ou menos local que, sob a liderança de Miguel Amaral, se desdobra em escritores de fados de primeira água: Mário Laginha, Luís Figueiredo, Filipe Teixeira, André Teixeira e Marco Oliveira por exemplo. É isso que ajuda a fazer do disco de MX um dos mais belos discos de Fado dos últimos tempos.
A criança, nas suas sestas com a avó, nunca sonhou ter uma missão. Cresceu apenas para aquele lugar suave e ético que é a Arte.
Ricardo Pais



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