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«A Bruxa de Pinho»

Arquivo - Dezembro 26, 2007
Imagine-se alguém, marceneiro de profissão, que vendo as formas de um dado objecto num dia, afastado dele, tenta reproduzi-lo no outro...

Da Guitarra Portuguesa diz-se que é de origem remota e, entre diversíssimas opiniões de quase-mesma-coisa, presume-se que tenha tido por base a Cítara renascentista ou o Alaúde árabe. Todavia, bem observando instrumentos semelhantes, por que não considerar também o mandolim, que é em formato um dos que mais se configura com a nossa inconfundível «Bruxa-de-Pinho»? - «Bruxa de Pinho, mãe do castiço, tens um feitiço que não se entende...».
Matutanto sobre a dilecta companheira dos intérpretes de Fado, sugere-se-me remontar ao ano de 1808, altura em que o general inglês Arthur Wellesley expulsou os invasores franceses de Lisboa, submetendo o general Junot à Convenção de Sintra.

Então, sob a euforia da libertação, imagine-se a ambiência da capital portuguesa naquela conturbada época com a soldadesca inglesa irmanada na população alfacinha, fruindo extravagantes noitadas por prostíbulos e tavernas.

Num desses vertiginosos convívios, entre fumarada, vinho, homens em delírio e mulheres de amor-fácil, estaria um militar inglês a animar o serão, dedilhando com mestria um mandolim, o que terá suscitado particular curiosidade num dos convivas, português, também tocador de instrumentos de corda e benquisto marceneiro de profissão. Naturalmente, logo que surgiu a oportunidade, pediu ao soldado inglês para experimentar o instrumento.

Daquela noite bem passada terá ficado ao luso folgazão o desejo de também possuir um mandolim, assaz impressionado com os aplausos que a sua actuação mereceu.

Bem, o resto desta imaginada e singela história prossegue, em face da afamada Guitarra Portuguesa, em cinco sextilhas, que procuram música própria. Quiçá o Custódio Castelo, com quem já tenho uma parceria musical através do Nuno de Aguiar sob o título "O novo Bairro Alto", por feliz coincidência venha a compor uma música adequada a estes versos.


A GUITARRA PORTUGUESA

Matutando, cá pra mim,
terá sido o mandolim
que inspirou concerteza
o artista português
que ao acaso um dia fez
a guitarra portuguesa.

Ao redor de lauta mesa
uma tertúlia burguesa
vejo em grande diversão
e lá no meio abancado
em exímio dedilhado
alguém anima a sessão.

Recostado ao balcão,
um mestre na profissão,
marceneiro afamado,
observa muito atento
as formas ao instrumento
por seu som maravilhado.

Mais tarde, assaz devotado,
sem modelo e isolado
trabalhou dias a eito;
cortou, lixou e poliu
e assim que concluiu
pasmou do que tinha feito.

Encostando a seu peito
o instrumento e com jeito
ao tocá-lo com firmeza,
na emoção que sentiu
foi o primeiro que ouviu
a guitarra portuguesa!...

António Torre da Guia



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