Foi numa pálida manhã de Outono
soturna como a cela de um convento
que num vetusto parque ao abandono
deí largas ao meu louco pensamento
Cortava o espaço a lâmina de frio
que impunemente as nossas carnes corta
e o vento num constante desvario
despia as árvores da folhagem morta
Folhas mirradas como pergaminhos
soltas ao vento como os versos meus
bailavam loucamente pelos caminhos
como farrapos a dizer adeus
Das débeis folhas lamentei a sorte
mas reflecti depois de estar sereno
que bailar à mercê de quem é forte
é sempre a sina de quem é pequeno
Desde então meu pobre pensamento
fugiu para não bailar ao abandono
como a folhagem que bailava ao vento
naquela pálida manhã de Outono.