Mafalda Arnauth: o concerto de uma diva do fado
Em noite de jogo da selecção nacional (Suécia x Portugal), o grande auditório do Centro Cultural de Belém esteve quase cheio para ouvir a apresentação pública do novo álbum de Mafalda Arnauth, «Flor de Fado». Se em campo não se foi além do empate (informação dada ao público pela própria fadista), ali a vitória foi certa.
Mafalda Arnauth tem uma voz que nos atravessa, seja cantando fado tradicional, seja entoando, com piano, os novos temas que compõem o seu disco, e que estarão na zona de fronteira - há quem o diga - com a canção, batendo rente às influências brasileiras que também a movem. Homenagem, por exemplo, a Maria Bethânia, que tanto aprecia, cantada no disco com a participação de Olívia Byington em «Entre o Mar e o Oceano».
Acima de tudo, há a notar a voz, a entoação, e a maneira como canta e desfolha tema atrás de tema, como se não fosse preciso respirar, bastando apenas existir - uma oração. A fadista é uma diva - suspeita que se confirma ao vivo. E não menos importante são os músicos que a acompanham, que deveriam estar, sem dúvida, na short-list de um qualquer galardão à escala mundial, tendo oferecido ao público, em solos de guitarras, toda a música que têm dentro de si.
«Flor de Fado» foi cantado noite dentro, fora do alinhamento do disco, conjuntamente com outros fados.
O álbum inclui um dos temas «caros» do fado - «Povo que Lavas no Rio», imortalizado por Amália e um dos momentos mais emocionantes da noite. Na plateia ouvia-se «bis», «bis» e um «trovão» de palmas. Havia quem aplaudisse de pé, emocionado.
Mas houve mais, como em «O Mar Fala de Ti», sem dúvida um dos temas mais marcantes deste álbum, que a fadista revelou ao público ter sido a única música (até agora) que lutou com todo o seu fulgor para que fosse sua. E compreende-se. O tema da autoria de Tiago Torres da Silva, musicado ao piano por Ernesto Leite, tem tudo a ver com fado e amor - e era isso mesmo que Mafalda queria cantar. «Este é o meu disco sobre o amor», disse. Pois é.