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Kumiko Tsumori - a japonesa que quer cantar o fado

Archive - Janeiro 18, 2009
Quatro noites por semana, envolvida num traje tradicional, Kumiko Tsumori, a jovem estudante de Osaka, desfila entre as mesas do Velho Pateo de Sant'Ana.

Ante um público emocionado, que escuta num silêncio quase religioso, Kumiko, vestida de preto, com excepção de seu xaile pontilhado de vermelho, transforma-se em "fadista" autêntica. O seu olhar cativa, a sua voz encanta, sustentada pelo som da guitarra portuguesa e pela viola.

Estudante de teatro, cantora de comédias musicais no Japão, é em 2002 que Kumiko Tsumori descobre o fado, canção melancólica da "saudade" portuguesa, graças a um músico amigo, Kazufumi, tocador de guitarra portuguesa na cidade nipónica. Para a jovem japonesa de 28 anos, esta descoberta é uma revelação: "é a alma e o amor, explica. Um sentimento alternadamente triste e alegre que dá força para viver."

O seu amigo guitarrista propõe-lhe cantar com ele, ela aceita. Kazufumi traduz os poemas do fado de forma que ela possa entender o que canta. Em 2003, quando visita Portugal para se aperfeiçoar, Kumiko acompanha-o durante todo o verão e regressa então durante duas semanas no ano seguinte. Em cada uma das suas estadias, os dois japoneses têm mesa reservada no Velho Pateo de Sant'Ana onde a gerente, Rosalina Caeiro, os trata como seus filhos. "Ela chama-me de mãe. Tornou-se a minha filha japonesa", explica a senhora Caeiro.

No passado mês de outubro, Kumiko viaja para Lisboa, trazendo consigo uma bolsa de estudos, determinada a aperfeiçoar seu português, e como de costume ela regressa à "casa de fado." "Eu não falo muito bem, desculpa-se num português muito hesitante. Mas eu gosto de falar com pessoas. Quando eu canto o fado, posso falar ao mesmo tempo com muitas pessoas."

Na sala do Velho Pateo, dois turistas japoneses, vindos para escutar "esta música nostálgica descrita no guia turístico", não adivinhavam sequer poder encontrar compatriotas seus... "Ela canta com muita emoção, nós estamos muito orgulhosos dela", confessa Waka Shibata.

Sentada alguns metros mais afastada, Susana, uma cliente portuguesa, modera: "ela manifesta ainda um pequeno sotaque, há algumas palavras que eu não entendo." Mas para cantar o Fado, sem dúvida "a sua voz é realmente magnífica." O público não se contém e canta em coro o refrão do clássico "Tudo isto é fado", celebrizado por Amalia Rodrigues.

No Japão, a família da jovem cantora teve dificuldade em aceitar a sua nova paixão. "Quando comecei a cantar o fado, eles não me entenderam. Hoje já aceitam com alguma naturalidade. E minha mãe aprendeu a gostar mesmo. Meu pai e meu irmão continuam indiferentes..."

Em seis meses, Kumiko voltará para o Japão. "Eu quero ser cantora de Fado, fazer disto o meu trabalho" diz exibindo um sorriso. "É verdade que isso não é fácil. Lá no Japão, o fado não é muito conhecido", admite. Mas Kumiko está convencida, o Japão tem tudo para apreciar o fado. "Os japoneses que conheço gostam de fado, porque eles gostam da nostalgia, a alma, os sentimentos. Talvez porque o mar está presente na cultura dos nossos dois países..."


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