Filipa Cardoso - Cumprir seu fado
Discos - Março 05, 2009
Quem ouvir com atenção Cumprir Seu Fado compreende que, mais do que um
disco de Fado, é uma inevitabilidade para Filipa Cardoso. A voz e a
alma estavam há algum tempo prontas a ser partilhadas.
Perdoarão a arrogância, mas logo para início de conversa, a teoria: o Fado é a arte de bem dizer o silêncio. Na verdade, e se tempo houvesse, diria que toda a grande arte caminha para o que não se diz, simplesmente porque não existe maneira de o dizer. Uma pintura, um poema, uma voz – tudo isto, no seu melhor, diz o que não conseguimos dizer. E é isso que o Fado faz quando nos devolve sem defesas nem remédio o que se sente e que muitas vezes – sempre? – confundimos com esse mistério que resolvemos chamar de alma.
Essa magia é transmitida há muito tempo através de gerações dos seus praticantes: nas casas de Fado, nos retiros, nos bairros, homens e mulheres são iniciados nesta misteriosa disciplina de ir para além das palavras e cortar direito ao coração de quem ouve. Uma dessas eleitas é Filipa Cardoso.
Filipa cresceu no bairro do Alto do Pina, em Lisboa, entre amadores do Fado, no sentido mais nobre da palavra. As suas memórias de infância têm acordes de guitarra portuguesa e lembranças de vozes como a de Fernando Maurício.
Aos 10 anos, num casamento de uma familiar, pedem-lhe para cantar um Fado; no final tinha uma oferta de emprego e correspondente cachet. Cinco anos depois volta a encantar por acaso, num aniversário, o que lhe valeu a contratação para actuar em duas casas de Fado.
Só que havia um problema: a adolescente feliz não conseguia sentir o repertório triste que a faziam cantar – o que no Fado é pecado maior e infelizmente comum. Nessa altura tomou uma decisão corajosa e sensata: parou. Voltaria nove anos mais tarde, depois de um período intenso em que ganhou vida e encheu a alma das emoções boas e más de que a vida é feita. Não é de estranhar que quando o Fado voltou, já chegou cheio de verdade. Resultado mais visível: a sua vitória na Grande Noite do Fado de 2004.
É convidada a integrar o elenco da casa de Fados Sr.Vinho, onde continua a sua aprendizagem. Até que um dia o destino – personagem inevitável nesta história – lhe dá a conhecer Jorge Fernando, que além de ser um brilhante músico, autor, compositor e cantor é também alguém com um raro dom para perceber as almas de diamante em bruto: foi assim com Mariza, foi assim com Ana Moura, é assim com Filipa Cardoso. A todas Jorge Fernando produziu o primeiro disco. No caso de Filipa, assina também a maior parte dos poemas e alguns Fados originais.
Quem ouvir com atenção Cumprir Seu Fado compreende que, mais do que um disco de Fado, é uma inevitabilidade para Filipa Cardoso. A voz e a alma estavam há algum tempo prontas a ser partilhadas. E são-no da maneira mais bonita: quer cante o ciúme, o desengano, o amor impossível e o amor maternal, o desejo cru e poético e claro, a saudade, Filipa Cardoso diz a verdade. Percebeu-o Argentina Santos, que com ela colabora no “Fado da Herança”. Porque o que Filipa traz é a herança da mudança, uma voz que carrega todos os fadistas e poetas do passado para desaguar numa alma só dela. E que ao escutar-se o primeiro Fado, garanto: é também a nossa alma.
Essa magia é transmitida há muito tempo através de gerações dos seus praticantes: nas casas de Fado, nos retiros, nos bairros, homens e mulheres são iniciados nesta misteriosa disciplina de ir para além das palavras e cortar direito ao coração de quem ouve. Uma dessas eleitas é Filipa Cardoso.
Filipa cresceu no bairro do Alto do Pina, em Lisboa, entre amadores do Fado, no sentido mais nobre da palavra. As suas memórias de infância têm acordes de guitarra portuguesa e lembranças de vozes como a de Fernando Maurício.
Aos 10 anos, num casamento de uma familiar, pedem-lhe para cantar um Fado; no final tinha uma oferta de emprego e correspondente cachet. Cinco anos depois volta a encantar por acaso, num aniversário, o que lhe valeu a contratação para actuar em duas casas de Fado.
Só que havia um problema: a adolescente feliz não conseguia sentir o repertório triste que a faziam cantar – o que no Fado é pecado maior e infelizmente comum. Nessa altura tomou uma decisão corajosa e sensata: parou. Voltaria nove anos mais tarde, depois de um período intenso em que ganhou vida e encheu a alma das emoções boas e más de que a vida é feita. Não é de estranhar que quando o Fado voltou, já chegou cheio de verdade. Resultado mais visível: a sua vitória na Grande Noite do Fado de 2004.
É convidada a integrar o elenco da casa de Fados Sr.Vinho, onde continua a sua aprendizagem. Até que um dia o destino – personagem inevitável nesta história – lhe dá a conhecer Jorge Fernando, que além de ser um brilhante músico, autor, compositor e cantor é também alguém com um raro dom para perceber as almas de diamante em bruto: foi assim com Mariza, foi assim com Ana Moura, é assim com Filipa Cardoso. A todas Jorge Fernando produziu o primeiro disco. No caso de Filipa, assina também a maior parte dos poemas e alguns Fados originais.
Quem ouvir com atenção Cumprir Seu Fado compreende que, mais do que um disco de Fado, é uma inevitabilidade para Filipa Cardoso. A voz e a alma estavam há algum tempo prontas a ser partilhadas. E são-no da maneira mais bonita: quer cante o ciúme, o desengano, o amor impossível e o amor maternal, o desejo cru e poético e claro, a saudade, Filipa Cardoso diz a verdade. Percebeu-o Argentina Santos, que com ela colabora no “Fado da Herança”. Porque o que Filipa traz é a herança da mudança, uma voz que carrega todos os fadistas e poetas do passado para desaguar numa alma só dela. E que ao escutar-se o primeiro Fado, garanto: é também a nossa alma.
Nuno Miguel Guedes
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