Cristina Branco - Kronos
Records - Março 23, 2009
Amália Rodrigues e Zeca Afonso são barómetro desta ribatejana que cresceu longe das casas de Fado alfacinhas, mas nem por isso deixou de lhes beber o sentimento melancólico...
Uma breve consulta à biografia de Cristina Branco e salta à vista a necessidade de se definir enquanto intérprete e não fadista. Esta pequena distinção permite-lhe alargar os horizontes, redescobrir outras sonoridades, outros destinos ou, nem de propósito, outros Fados.
Amália Rodrigues e Zeca Afonso são barómetro desta ribatejana que cresceu longe das casas de Fado alfacinhas, mas nem por isso deixou de lhes beber o sentimento melancólico que impregnou com referências poéticas que vão muito além da lírica nacional, ou não iniciasse o livro que acompanha o CD com uma epígrafe de William Blake, o poeta maldito.
Amália Rodrigues e Zeca Afonso são barómetro desta ribatejana que cresceu longe das casas de Fado alfacinhas, mas nem por isso deixou de lhes beber o sentimento melancólico que impregnou com referências poéticas que vão muito além da lírica nacional, ou não iniciasse o livro que acompanha o CD com uma epígrafe de William Blake, o poeta maldito.
“Segura o infinito na palma da mão e a eternidade numa hora”, diz o inglês e cumpre Cristina Branco ao longo de 14 faixas que desfilam fluentemente embebidas de guitarras portuguesas, pianos e uma voz que encerra, numa caixa de virtudes, os destinos da alma portuguesa, a qual nem Epimeteu ousaria abrir.
Se “Trago Um Fado” (poema magnífico de Manuel Alegre), “Eterno Retorno” ou “O Rapaz do Trapézio” cumprem de forma mais ou menos escrupulosa com o cânone “fadístico”, “Bomba-relógio”, (com letra de Sérgio Godinho, facilmente reconhecível pela métrica), “Margarida” (dueto com um Jorge Palma à altura e música de Mário Laginha), “Eléctrico Amarelo”, da dupla de sempre Carlos Tê e Rui Veloso ou “Uma Outra Noite” (a piscar o olho à bossa-nova), são momentos de rara inspiração redentora de um género que já não se resume aos novos talentos de xaile e vestido preto.
Cristina Branco teve o mérito de ser rodear da melhor vizinhança (aos nomes já citados podemos acrescentar poemas de Álvaro de Campos, Hélia Correia, Vasco Graça Moura e composições de Victorino d’ Almeida, Carlos Bica ou José Mário Branco), para construir um álbum sem tempo nem idade, ficando apenas a certeza que o infinito nos pertence e pode mesmo estar na palma da mão, ou à distância de uma audição.
Bruno Mano
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