Pedro Moutinho - Um copo de sol
De um modo
que nunca se esquece Pedro Moutinho neste novo álbum
confessa-se e arrebata-nos. Não estou
arrependido, canta o fadista num dos 12 temas
que compõem o álbum produzido por Carlos Manuel Proença
que também o acompanha à viola fazendo parceria com
José Manuel Neto à guitarra portuguesa e Daniel Pinto
na viola-baixo.
Neste
álbum luminoso encontramos uma Lisboa que é de hoje,
sempre com o Tejo, mas das passadeiras do Marquês e das
esplanadas onde se usufrui do sol.
Uma
bebedeira de frutos da seiva solar que são cada um destes
fados cantados com um amadurecimento não só da prática
fadista mas dos sentimentos. A luminosidade que encontramos neste
álbum reflecte a verdade do fadista. Cantando Pedro Moutinho
conta-nos histórias suas que podiam ser de qualquer um de nós.
Se se
desvenda um segredo seu, talvez este: o de ir à tradição
e reinventá-la. Oiça-se “Toma lá colchetes
d’oiro” que o mestre dos mestres, Marceneiro, criou, e
Pedro
Moutinho canta-a como se nunca a tivéssemos ouvido; a procura
de um inédito de Jorge Rosa, poeta feito nas vidas do fado, ou
as melodias tradicionais como os Fados Oliveira, Seixal ou Meia-Noite
em que perpassa um raio luminoso das novas palavras dos poetas que
escolheu como Pedro Tamen, Aldina Duarte ou Manuela de Freitas e como
essa sua voz as burila, a par de novas melodias de Pedro Campos,
Tiago Bettencourt, Amélia Muge ou Rodrigo Leão.
Ilumina-se o fado.
Este álbum
que nos traz Pedro Moutinho é uma taça plena de sol que
inebria os sentidos de quem ouve e com ele partilha todas estas
emoções, da partida, da solidão, do encontro, da
festa, da vida.
Distinguido
com os Prémios Revelação da Casa Imprensa e
Amália Rodrigues para o seu anterior álbum, também
produzido por Carlos Manuel Proença, Pedro Moutinho
justifica-os ao dar um salto com este novo álbum que confirma
o que já circulava: temos fadista e fadista não é
quem quer mas quem ao canto se lhe dedica de alma franca e cria um
universo que sendo seu nos leva a identificarmo-nos com ele. Nada de
mais natural para quem é nado e criado no meio do fado. Não
vale a pena enumerar os palcos que pisou ou a muitas noites de fado
por Lisboa. Basta ouvi-lo e vale a pena conferir no S. Jorge em
Lisboa, dia 08 de Abril, ou antecipe-se e partilhe emoções
em Guimarães, dia 04, no Centro Vila Flor. O certo é,
que como canta Pedro Moutinho, "vais ter de me
ouvir cantar"; e nós acrescentamos,
vais gostar.