Mísia - Ruas
Agora a residir em Paris (desta
vez é mesmo verdade), Mísia olha apaixonadamente para a sua Lisboa de
sempre, agora reduzida aos seus valores mais românticos.
Surpreendentemente, opta por um caminho menos ortodoxo que no passado,
em que o fado é apenas mais um dos géneros focados.
Mísia continua a cantar a melancolia mas sob uma perspectiva
distanciada, embora nunca desapaixonada. É por isso que «Lisboarium» é
um disco sobre a canção olissiponense e «Tourists» uma homenagem a
algumas das grandes odes que bebem o mesmo sentimento do fado.
Ouvir Mísia a cantar um «Hurt» ou um «Love Will Tear Us Apart» traz a
memória uma Patti Smith em pura catarse. É um registo novo para aquela
que é a madrinha do novo fado mas que é coerente com um percurso em que
o negro foi sempre a cor mais usada.
Ao contrário de discos recentes de Cristina Branco ou Mariza, «Ruas»
não está à procura de um pós-novo fado. É, antes, um acto de puro
diletantismo por alguém que recebeu carta branca da alma para fazer o
que queria. Um «que se dane» muito corajoso.