E em Zamora o Douro se fez ouro - VII Festival de Fados de Castilla y León
Archive - Julho 25, 2009
Celebrou-se entre 22 e 24 de Julho, na Fundación Rei Afonso Henriques, Zamora, o Festival de Fados de Castilla y León, este ano na sua sétima edição.
À semelhança de anos anteriores, o evento encheu por completo os majestosos jardins da Fundación Rei Afonso Henriques, um edificio de arquitectura moderna conjugada com as ruínas góticas do Convento de São Francisco, que em muito se parecem com a Igreja do Carmo em Lisboa.
Ali, habitualmente ao entardecer do Verão o cenário é magnifico, com as azenhas, as muralhas e a catedral iluminadas, e a brisa fresca assomando os choupos e o leito do Douro. Este ano, quis que fosse o primeiro dia carregado de nuvens e vento desagradáveis que nada puderam perante um público rendido de antemão ao feitiço do fado. Em todos os dias as actuações foram precedidas de prólogos culturais: na quarta-feira a projecção da película "Amália - O filme", na quinta-feira a conferência da Dr.a Sara Pereira, directora do Museu do Fado de Lisboa, que apresentou de forma clara e sucinta a história do fado, auxiliada pela projecção de imagens ilustrativas. Na sexta-feira Mário Pacheco que apresentaria de seguida o espectáculo "Clube de Fado", dissertou em bom espanhol sobre a guitarra portuguesa.
Quarta-feira, 22 de Julho
O concerto de Luísa Rocha, foi acompanhado por Guilherme Silva (guitarra portuguesa) e Miguel Gonçalves (viola) que antes do intervalo se desgarraram entre si numa guitarrada de "Variações".
A fadista apresentou-se de vestido vermelho e o tradicional xaile, ostentando no cabelo um adorno de flores também vermelhas, para acentuar o seu semblante de "fadista castiço".
Cantou fado, fado rigoroso e "afadistado", com postura, com raça, com orgulho. Começou com o "Fado Menor", cantou o "Fado Isabel" e fados-canção como "Sabe-se lá".
Cantou muito e cantou o "Dois tons" e "Gosto de ti porque gosto" e claro, o público aplaudiu e clamava "Bravo!" e "Guapa".
O vento, furioso, não pôde com ela, não pôde com o público e o fado aconteceu uma vez mais junto ao Douro.
Quinta-feira, 23 de Julho
Na quinta-feira foi a vez de Dâna subir ao palco, num clima já mais sereno, acompanhada pelos músicos do dia anterior. Dâna é uma fadista nova, muito jovem, com um estilo muito próprio, talvez para meu gosto, demasiado teatral, para o que o fado pede. Desfiou um repertório também clássico e de novo o público correspondeu com aplausos e entusiasmo.
Sexta-feira, 24 de Julho
O terceiro dia foi magnífico, para recordar - vêm-nos á memória as actuações de António Chaínho, Ricardo Ribeiro ou Carminho, de anos anteriores - com guitarradas roubadas às mestrias de Mário Pacheco na guitarra portuguesa, Pedro Pinhal na viola e Rodrigo Serrão no contrabaixo. Entoaram trechos de música portuguesa, afinada pelo virtuosismo de cada qual, sons rapsódicos de folclore, composições de Paredes, Rocha e as "variações" de Armandinho.
No espirito do "Clube de Fado" foram apresentados os fadistas que habitualmente intervêm nesse espaço e casa de Fados tradicional de Alfama.
Primeiro Cristina Nóbrega, com uma voz doce, bonita e cristalina, muito mais expressiva que no seu CD de estreia "Palavras do meu fado", e uma presença arrebatadora em palco: vestia um elegantíssimo vestido fuschia com xaile e uma expressão gestual plena de sentimento. Logo de seguida Miguel Capucho, já conhecido, muito humorado e castiço. Por último outra jovem, Lina Rodrigues - que por certo é vizinha de Zamora, pois nasceu em Bragança - tem uma voz melodiosa, cadenciada, pondo o coração e a expressividade em letras menos frequentes de poetas como Pessoa, Amália Rodrigues, Vasco Graça Moura, musicadas por Mário Pacheco. Umas canções - nem todas fado, algumas baladas - de grande beleza e requinte.
Choveram aplausos, "encores", e o público querendo saudar os artistas, ia tentando iludir a despedida, quando já passava muito para lá da meia-noite.
Ao lado, el Duero, rio que como a noite é partilhado por portugueses e espanhois, esse rio do poeta Eugénio de Andrade que um dia escreveu: "Vem de longe só para morrer às mãos das vagas. Chega extenuado, o caminho é longo, nem sempre fácil, embora se demore muita vez a contemplar as margens, ora escarpadas, ora em socalcos verdes, entre oiro e carmim", nessa noite, para se divertir um pouco adiou-se por muitos kilómetros e, fascinado pelo Fado passou a chamar-se Douro.
Ali, habitualmente ao entardecer do Verão o cenário é magnifico, com as azenhas, as muralhas e a catedral iluminadas, e a brisa fresca assomando os choupos e o leito do Douro. Este ano, quis que fosse o primeiro dia carregado de nuvens e vento desagradáveis que nada puderam perante um público rendido de antemão ao feitiço do fado. Em todos os dias as actuações foram precedidas de prólogos culturais: na quarta-feira a projecção da película "Amália - O filme", na quinta-feira a conferência da Dr.a Sara Pereira, directora do Museu do Fado de Lisboa, que apresentou de forma clara e sucinta a história do fado, auxiliada pela projecção de imagens ilustrativas. Na sexta-feira Mário Pacheco que apresentaria de seguida o espectáculo "Clube de Fado", dissertou em bom espanhol sobre a guitarra portuguesa.
Quarta-feira, 22 de Julho
O concerto de Luísa Rocha, foi acompanhado por Guilherme Silva (guitarra portuguesa) e Miguel Gonçalves (viola) que antes do intervalo se desgarraram entre si numa guitarrada de "Variações".
A fadista apresentou-se de vestido vermelho e o tradicional xaile, ostentando no cabelo um adorno de flores também vermelhas, para acentuar o seu semblante de "fadista castiço".
Cantou fado, fado rigoroso e "afadistado", com postura, com raça, com orgulho. Começou com o "Fado Menor", cantou o "Fado Isabel" e fados-canção como "Sabe-se lá".
Cantou muito e cantou o "Dois tons" e "Gosto de ti porque gosto" e claro, o público aplaudiu e clamava "Bravo!" e "Guapa".
O vento, furioso, não pôde com ela, não pôde com o público e o fado aconteceu uma vez mais junto ao Douro.
Quinta-feira, 23 de Julho
Na quinta-feira foi a vez de Dâna subir ao palco, num clima já mais sereno, acompanhada pelos músicos do dia anterior. Dâna é uma fadista nova, muito jovem, com um estilo muito próprio, talvez para meu gosto, demasiado teatral, para o que o fado pede. Desfiou um repertório também clássico e de novo o público correspondeu com aplausos e entusiasmo.
Sexta-feira, 24 de Julho
O terceiro dia foi magnífico, para recordar - vêm-nos á memória as actuações de António Chaínho, Ricardo Ribeiro ou Carminho, de anos anteriores - com guitarradas roubadas às mestrias de Mário Pacheco na guitarra portuguesa, Pedro Pinhal na viola e Rodrigo Serrão no contrabaixo. Entoaram trechos de música portuguesa, afinada pelo virtuosismo de cada qual, sons rapsódicos de folclore, composições de Paredes, Rocha e as "variações" de Armandinho.
No espirito do "Clube de Fado" foram apresentados os fadistas que habitualmente intervêm nesse espaço e casa de Fados tradicional de Alfama.
Primeiro Cristina Nóbrega, com uma voz doce, bonita e cristalina, muito mais expressiva que no seu CD de estreia "Palavras do meu fado", e uma presença arrebatadora em palco: vestia um elegantíssimo vestido fuschia com xaile e uma expressão gestual plena de sentimento. Logo de seguida Miguel Capucho, já conhecido, muito humorado e castiço. Por último outra jovem, Lina Rodrigues - que por certo é vizinha de Zamora, pois nasceu em Bragança - tem uma voz melodiosa, cadenciada, pondo o coração e a expressividade em letras menos frequentes de poetas como Pessoa, Amália Rodrigues, Vasco Graça Moura, musicadas por Mário Pacheco. Umas canções - nem todas fado, algumas baladas - de grande beleza e requinte.
Choveram aplausos, "encores", e o público querendo saudar os artistas, ia tentando iludir a despedida, quando já passava muito para lá da meia-noite.
Ao lado, el Duero, rio que como a noite é partilhado por portugueses e espanhois, esse rio do poeta Eugénio de Andrade que um dia escreveu: "Vem de longe só para morrer às mãos das vagas. Chega extenuado, o caminho é longo, nem sempre fácil, embora se demore muita vez a contemplar as margens, ora escarpadas, ora em socalcos verdes, entre oiro e carmim", nessa noite, para se divertir um pouco adiou-se por muitos kilómetros e, fascinado pelo Fado passou a chamar-se Douro.
Angel Garcia Prieto
Asociación de Amigos del Fado de Asturias
Fotos: Javier Lucas
(Fundacion Rei Afonso Henriques)
Tradução e adaptação : Portal do Fado
Asociación de Amigos del Fado de Asturias
Fotos: Javier Lucas
(Fundacion Rei Afonso Henriques)
Tradução e adaptação : Portal do Fado
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