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A. Correia de Oliveira - Memória de Adriano

Discos - Dezembro 10, 2008
Orfeu / 1983
A memória de Adriano Correia de Oliveira é um canto de resistência e de esperança que não cessará de ouvir-se enquanto os homens comungarem da sede de liberdade e de justiça que deu forma e dimensão colectiva à sua voz.

Um ano após a sua morte o canto permanece raiz e essência das coisas verdadeiras, para lá do silêncio oficial e das homenagens e evocações apressadas.
De "Memória de Adriano" importa reter o belo poema de Viale Moutinho, "Composição de Memórias", e um texto de José Niza que não hesitamos em reproduzir:

"Era um rapazinho magro e muito alto que, de viola eléctrica na mão, entrava numa sala do velho Palácio dos Grilos, antiga sede da Associação Académica de Coimbra. Nessa sala, onde durante muitos anos vivera o Cardeal Cerejeira, contígua de outra onde António de Oliveira Salazar dormira e congeminara a ditadura, havia um ensaio de um conjunto de música ligeira. Foi em 1959 e o rapaz chamava-se Adriano. Tinha acabado o liceu no Porto, entrara para a Faculdade de Direito e, como prémio, os pais tinham-lhe dado uma reluzente viola. No entanto, a breve trecho, a viola eléctrica cedeu o lugar às guitarras do fado de Coimbra e, quanto a estudos jurídicos, o Adriano cedo se perdeu — e encontrou — metido em coisas de maior urgência e importância. Integrado numa geração de coragem, preocupada com os destinos do país, cercada, por um lado, por uma polícia política implacável e, do outro, ameaçada pelas guias de marcha para as guerras de África, o Adriano rapidamente se apercebeu de que a canção era uma grande arma de luta, uma arma difícil de calar porque — íntima e portátil — em todo o sítio e a toda a hora se podia, cantando, falar e lutar pela Liberdade.

E foi isso que ele fez, durante mais de vinte anos, com coragem, perseverança e generosidade, sabendo sempre para onde ia e o que queria. Não cedeu, não se vergou a coisa nenhuma, não transigiu com o fácil, não se vendeu por preço nenhum. Desafiou a PIDE/DGS como nenhum outro trovador da sua geração. Cantou os maiores poetas, cantando os maiores temas. Levou a esperança na Liberdade a todos os cantos de Portugal. Denunciou a guerra, a injustiça. Cantou a emigração. Minou o fascismo. E, numa manhã de Abril, em 1974, era também a voz de Adriano que trazia aos portugueses a bela notícia da libertação. Ele foi, de viola às costas, um capitão de Abril. Ele foi o arauto da esperança: 'Há sempre alguém que resiste/ Há sempre alguém que diz não'.

Ele foi, também, com o Zeca Afonso, o protagonista da grande viragem da música popular portuguesa, a ponte entre o tradicional fado de Coimbra e a nova canção que hoje é cantada.

Ele era um homem bom, um bom amigo. Um homem que fazia da amizade um padrão de comportamento, superior a qualquer outro. Por isso tinha amigos, os que conhecia e os que apenas o conheciam. Os que o mantêm vivo cantando as suas canções. Os que choram ao ouvir a sua voz, tão viva como dantes.

Este disco é uma homenagem ao Adriano. Uma evocação feita por quem, solidário com o Adriano e a sua mensagem (nos tempos em que editar as suas canções era um risco assumido e não um negócio editorial), foi um dos seus grandes amigos, Arnaldo Trindade, um amigo nosso. Um disco que ficará sobretudo para os jovens de uma geração que saía das maternidades quando o Adriano saiu para a rua com as suas canções. Uma geração à qual o Adriano legou o País de Abril e a Liberdade. A melhor homenagem que podem fazer-lhe é lutar por Ela".»
Mário Correia, in Música Popular Portuguesa: Um Ponto de Partida


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