José Afonso - Ao vivo no Coliseu
Discos - Agosto 25, 2007
Mais que um registo, este
duplo-álbum é o retrato de uma vida e de um percurso musical e poético
extremamente rico, parte integrante da história de todos e de cada um
de nós.
Desde os sonhos adolescentes das margens do Mondego até às utopias desejadas do presente, da inquietação de "Os Vampiros" à esperança colectiva de "Grândola", da simplicidade da "Canção de Embalar" à raiva de "A Morte Saiu à Rua", é um José Afonso vivo e actuante, ainda contemplativo e por vezes até ingénuo que encontramos neste disco, lembrança memorável daquela noite de 29 de Janeiro de 1983, quando Lisboa se pareceu novamente com uma "cidade sem muros nem ameias".
É também, um José Afonso muito humano, já afectado pela doença, mas disposto a resistir, que se comove com os primeiros versos de "Saudades de Coimbra" e se entusiasma com "Um Homem Novo Veio da Mata", é principalmente este Zeca muito verdadeiro que se encontra ao longo destas 17 canções.
Um disco perfeito? Longe disso. Mas é precisamente essa 'imperfeição' que faz dele um documento autêntico, precioso, gratificante. Como todas as memórias das pequenas emoções.
As reedições posteriores em CD são francamente piores do que o original em vinil. A primeira, ainda da responsabilidade da editora Sassetti, divide as canções com sucessões de 'fade-outs' sem o mínimo rigor estético ou técnico.
A segunda, já com o selo da Strauss, pelo contrário, inclui a gravação integral do espectáculo. Curioso como documento, mas de duvidosa legitimidade, já que não apenas adultera o trabalho de Eduardo Paes Mamede, responsável pela produção do disco original, como desrespeita a vontade do próprio Zeca, que foi, em última análise, quem decidiu as canções que deveriam ou não ser incluídas no disco.
Viriato Teles