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Cristina Branco - Abril

Records - Agosto 11, 2009
Universal Music / 2007
A ideia de fazer um disco só com temas de José Afonso já existia na mente de Cristina Branco. Desde pequena que o ouvia e com ele se encantava, ainda na casa dos pais; e já tinha gravado "Pombas" e "Era Um Redondo Vocábulo".

Mas quando Jorge Salavisa, o director do Teatro Municipal São Luiz, a convidou fazer um espectáculo que ele pensou: "Perfeito". Escolheu vários temas e durante oito noites, em Fevereiro de 2007, encheu o Jardim de Inverno do teatro lisboeta. Em Abril foi para o estúdio (o de Mário Barreiros) e gravou 16 canções, dexando de parte algumas das que em palco cantara (como "Mulher da Erva", "Utopia", "Tu Gitana", "Lá no Xepangara"). Entre mil nomes possíveis, Cristina escolheu "Abril". "Porque as pessoas iam conotá-lo com aquele período mas também porque foi gravado em Abril, um tempo de renascimento, de renovação, e o propósito de fazer este disco passa por aí. Gosto da palavra, soa muito bem e tem ligações a José Afonso, com o momento em que a carreira dele se desenvolveu."

Antes disso, porém, documentou-se. Ouviu, leu, estudou. "Fui comprando alguns discos que não existiam na colecção dos meus pais. Mas além disso acho que li tudo o que Zeca escreveu e a maior parte das coisas que foram escritas sobre ele naquela época. Tive esse cuidado, para perceber melhor como é que aquela pessoa funcionava, como é que ele se relacionava com os outros." Ficou com uma ideia mais clara dele. "Para além de ser hipocondríaco e muito distraído, era uma pessoa muito amada por todos. Quando estive no São Luiz, acho que conheci a maior parte dos grandes amigos do Zeca. E foi interessantíssimo, porque todos tinham histórias para me contar. Foi muito bonito..." Produzido por Ricardo J. Dias, da Brigada Victor Jara, (que já trabalhara com Cristina em "Ulisses"), "Abril" conta com os mesmos músicos que a acompanharam no espectáculo: além de Ricardo J. Dias (piano, Fender Rhodes), Mário Delgado (guitarras), Bernardo Moreira (contrabaixo) e Alexandre Frazão (bateria), todos com particular ligação ao jazz. Mas vieram mais dois: João Moreira (trompete) e Quiné (percussões).

E, além deles, o Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra, cujas vozes dão uma curiosa solenidade ao "Coro da Primavera", quase a fechar o disco. Que começa com "Menino d’Oiro": "Tinha que ser o tema de abertura porque é o que rompe com o fado de Coimbra. E eu imaginei, logo de início, que só a partir dali é que para mim faria sentido fazer um álbum com José Afonso, para poder deixar uma época para trás." O resto deveria seguir uma lógica temporal, mas teve de obedecer a outros requisitos: "Tentei seguir uma ordem cronológica, pegando em todas as fases mais importantes do Zeca. Mas essa ordem não pôde ser seguida no disco, até porque as canções tinham que bater certo a nível rítmico e de tonalidades." Assim, "a melodia foi o fio condutor" num todo onde a cantora se assume como aprendiza: "Parto sempre do princípio que aprendemos qualquer coisa quando tocamos na genialidade de determinado autor e quando tentamos passá-lo para a nossa própria linguagem. Eu, pelo menos, tento aprender mais do que ensinar. E o José Afonso tem muito para dar, por essa via."

Entre as canções gravadas está "Era Um Redondo Vocábulo", que ele considera "o melhor tema do Zeca": "Dá a sensação que ele estava de olhos fechados a escrevê-lo. Imagino sempre uma pessoa enclausurada, a claustrofobia que deve ser e a tentativa de escapar. Uma vez que fisicamente é impossível, ele escapou pela mente. É um poema quase místico, tão intenso e tão circular, onde as palavras evoluem de forma genial."» (Nuno Pacheco, in "Público": Suplemento "Ípsilon", 09.11.2007).
São estes os dezasseis temas que integram "Abril": "Menino d’Oiro", "Senhor Arcanjo", "Maio Maduro Maio", "Canto Moço", "Avenida de Angola", "No Comboio Descendente", "Ronda das Mafarricas", "Canção de Embalar", "Era Um Redondo Vocábulo", "A Morte Saiu à Rua", "Cantigas do Maio", "Venham Mais Cinco", "Carta a Miguel Djéjé", "Os Índios da Meia-Praia", "Coro da Primavera" e "Chamaram-me Cigano".

Em recensão crítica ao álbum, Nuno Pacheco pronuncia-se nestes termos: «Testou o repertório [de José Afonso] em oito noites no São Luiz e gravou-o com o mesmo naipe de músicos e um refinamento das canções, mantendo-lhes íntegra a identidade. Ela própria escrevera: "Não trazemos nada de novo, vimos apenas lembrar." Por isso, da sua arte de intérprete caldeada pelo fado e por incursões noutras áreas da música popular vislumbram-se aqui sobretudo apontamentos, derivas estilísticas que dão aos temas uma sensível frescura e um inegável encantamento.

Os músicos, na sua maioria vindos da área do jazz, dão corpo e cor a bem conseguidos arranjos, embora por vezes o demonstrem em excesso ("No Comboio Descendente", "Ronda das Mafarricas", "A Morte Saiu à Rua"). Mas o resultado final é meritório, com momentos sublimes ("Menino d’Oiro", "Cantigas do Maio", "Avenida de Angola", "Canção de Embalar", "Era Um redondo Vocábulo") e um final surpreendente com o ritmado "Chamaram-me Cigano". Um tributo digno da herança.» Nuno Pacheco, in "Público": Suplemento "Ípsilon"


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