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Entrevistas - Dezembro 28, 2006
Decidiu ser cantora depois de ouvir um disco da Amália e depois de ir a uma noite de fados mas é difícil catalogá-la como fadista. Por vezes faz lembrar aquele personagem interpretado pelo Vasco Santana, num filme português, o Vasquinho da Anatomia, que canta o fado mas que numa tarde de copos proclama: “Abaixo o fado”. 
Há coisas no fado de que gosto e outras que, para mim, não fazem sentido. Eu não tenho nenhuma dificuldade em ser honesta comigo e com as pessoas que me querem ouvir. Eu gosto e não gosto do fado. 


O disco Ulisses foi considerado como o seu adeus ao fado. Agora com Live, em que canta fados da Amália Rodrigues, há quem diga que vai enterrar o lado fadista da sua carreira. Parece aqueles jogadores de futebol que fazem as festas de despedida mas regressam sempre para jogar mais uma época.
Quem cria essas “polémicas” não sou eu mas confesso que isso me diverte. Eu gosto de vários géneros de música e nunca me impedi de os cantar. Mesmo no meu primeiro disco não cantei só fado. Aliás, cantei apenas um fado. E também nunca cantei fados tradicionais a não ser agora neste disco que é realmente uma homenagem à Amália. Cantei fados que foram feitos para mim e já cantava Zeca Afonso e Sérgio Godinho no primeiro álbum. Eu não gosto de ser catalogada. Agrada-me esta conversa à volta do que faço e não faço em termos artísticos. Gosto de gerar controvérsia.

 

Precisa do fado?
Não. Nunca sou eu que uso a designação de fado. Mas as pessoas colocam o rótulo fado assim que ouvem a guitarra portuguesa. Este álbum que vou fazer agora, de homenagem ao Zeca Afonso com gravações no S. Luíz, tem guitarra portuguesa porque eu gosto da sonoridade da guitarra portuguesa.

 

Onde colocava os seus discos se trabalhasse numa loja de venda de discos?
Na música portuguesa. Não no fado. Na altura da saída do álbum Ulisses telefonaram da FNAC para saber onde colocar o disco. Eu acho que nenhum dos meus discos deveria ser colocado na secção do fado.

 

No estrangeiro os seus discos são colocados na secção de World Music (Música do Mundo), calculo.
Pelo que tenho visto não. Geralmente encontro-os colocados nas secções de Jazz ou de Música Clássica. Se calhar vender-se-ão menos discos por ninguém saber onde me encontrar mas eu gosto da sensação de ser uma espécie de camaleão musical.

 

Anda à procura de um estilo ou esta errância musical é já o seu estilo?
Eu sou mesmo assim. Não gosto de me sentir amarrada.

 

Foi por isso que acabou a sua relação artística com o seu ex-marido, o guitarrista Custódio Castelo? Sentia-se amarrada?
Para mim foi muito importante quebrar essas amarras. Precisei de sentir que evoluía por mim própria. A composição estava a ser demasiado focada num tipo de sonoridade. Senti necessidade de outro tipo de música. O Custódio criou oitenta por cento do meu reportório, sempre com uma característica muito vincada, muito própria. O Ulisses já é uma fase de transição. Já estava a acontecer essa minha libertação em termos artísticos. Eu tinha uma grande necessidade de ter outras pessoas a compor para mim, a darem-me outra linguagem também.


Ele também era o meu menino mas era uma personalidade à parte.
É um excelente acompanhador mas é acima de tudo um solista. Precisa do palco para ele. Não é suficientemente acompanhador ou músico para estar atrás seja de quem for. Isso foi muito marcante a determinada altura da nossa vida profissional. Ele precisa do palco para ele. A categoria de acompanhador já não lhe fica bem. Ele tem capacidade e criatividade suficiente para agarrar um palco sozinho, não precisa de nenhum cantor à frente dele.   



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