António Portugal
Músicos - Actualizado em Setembro 13, 2021
António Portugal teve como professores dois guitarristas "futricas",
barbeiros de profissão e irmãos (o Flávio e o Fernando).
António Jorge Moreira Portugal nasceu em 23 de
Outubro de 1931, na República Centro-Africana, e morreu em Coimbra, a
26 de Junho de 1994, com 63 anos.
Foi no Liceu D. João III que conheceu Luiz Goes e José Afonso e que os começou a acompanhar, em 1949, com um grupo constituído por Manuel Mora (2º Guitarra) e Manuel Costa Brás (militar de Abril e ex-ministro) e António Serrão, à viola.
Com um
ano de idade foi viver para Coimbra (a sua família era de Penacova) e
aí fez a escola primária, os estudos secundários e se licenciou em
Direito.
Foi no Liceu D. João III que conheceu Luiz Goes e José Afonso e que os começou a acompanhar, em 1949, com um grupo constituído por Manuel Mora (2º Guitarra) e Manuel Costa Brás (militar de Abril e ex-ministro) e António Serrão, à viola.
Em 1951 matriculou-se na Faculdade de Direito e ingressou na Tuna e Orfeon Académico.
Em 1952 conhece António Brojo, que o convida para integrar o histórico
grupo de fados e guitarradas do qual faziam parte os cantores Luiz
Goes, José Afonso, Florêncio de Carvalho, Fernando Rolim e, um pouco
mais tarde, Fernando Machado Soares. Para além de António Brojo e de
António Portugal, nas guitarras, faziam ainda parte do grupo os violas
Aurélio Reis e Mário de Castro.
Em 1953 -
e depois de muitos anos em que não se gravaram discos de Fado de
Coimbra - o grupo liderado por António Brojo registou uma série de 8
discos de 78 rotações por minuto.
António Portugal, durante mais de 45 anos, esteve omnipresente em tudo o que se relaciona com a “Canção de Coimbra”.
De 1949 a 1994, criou uma obra ímpar, quer pela qualidade e inovação
das suas composições e arranjos, quer pela forma como sabia ensaiar os
cantores, e com eles criar uma dinâmica de acompanhamento que o
distingue de todos os outros guitarristas do seu tempo. Mas não só:
António Portugal deixou, de longe, a mais ampla e completa discografia
do Fado e da Guitarra de Coimbra.
Embora de forma esquemática e muito resumida, o percurso musical de António Portugal poderá ser dividido em quatro fases.
A primeira, iniciática, em que António Portugal se aplica na execução e
pesquisa da guitarra, e na sua colaboração, já referida, com os maiores
e mais importantes nomes da geração de 50.
A segunda, que inicia com a formação do grupo do “Coimbra Quintet”
(Luiz Goes, Jorge Godinho - 2º guitarra, também já falecido e Manuel
Pepe e Levy Batista), corresponde à transição para a renovação do fado
e da guitarra de Coimbra, que culminou com a gravação da “Balada de
Outono”, de José Afonso e onde, pela primeira vez ao lado de António
Portugal, surge a viola de Rui Pato.
A
terceira fase - início dos anos 60 - é fundamentalmente marcada pela
canção de intervenção e pelos nomes de Adriano Correia de Oliveira e
Manuel Alegre. A “Trova do vento que passa”, de que António Portugal é
autor da música em conjunto com Adriano Correia de Oliveira, é o hino e
o emblema da resistência ao regime e à guerra colonial.
A quarta e última fase, é também a mais longa: é o período da maturidade e da consagração.
Depois do 25 de Abril, António Portugal, que ao longo dos anos tinha
sído um activista político persistente e eficaz na luta contra o
fascismo, “trocou” temporariamente a guitarra pela política activa,
quer na Assembleia Municipal de Coimbra (onde foi, até à sua morte,
líder da bancada do PS), quer na Assembleia da República, como
deputado.
Ultrapassado o período
revolucionário de 1975 - em que a onda de contestação não poupou também
as tradições coimbrãs - e com o “regresso” de António Brojo ao gosto e
ao gozo da Guitarra, reconstituiu-se o grupo dos anos 50 e foi
reiniciada uma actividade de intensa participação, quer em espectáculos
em Portugal e por todo o mundo, quer numa série de programas para a
RTP, quer ainda a gravação de uma colectânea de 6 LP’s, “Tempos de
Coimbra - oito décadas no canto e na guitarra”, onde se registam, para
a história - desde Augusto Hilário à actualidade - dezenas de fados e
guitarradas, fruto de laboriosa e cuidada recolha.
A sua morte imterrompeu o seu último projecto, que vinha realizando com
António Brojo, sobre a guitarra de Coimbra: ambos os solistas
preparavam um duplo album de guitarradas, em que alternadamente se
acompanhavam um ao outro, e que já ia a caminho da finalização.
No dia 10 de Junho de 1994, quando se encontrava no Oriente para actuar
com o seu grupo nas Comemorações do Dia de Portugal, o Presidente da
República, Dr. Mário Soares, atribui-lhe, em Coimbra, a Ordem da
Liberdade.
António Portugal não teve a
alegria de ver, e ostentar, essa justíssima condecoração porque, à
chegada ao aeroporto de Pedras Rubras, foi vitimado por acidente
vascular cerebral, morrendo dias depois, em Coimbra.
Como escreveu o conceituado Rui Vieira Nery, na Revista do jornal
“Expresso”, “A morte de António Portugal, encarnação modelar da
guitarra coimbrã e de toda a tradição que nela se foi condensando ao
longo destes dois últimos séculos, deixa-nos aquela espécie de vazio
doloroso que é a de uma perda simultaneamente individual e geral.
Perdemos um músico excelente que marcou decisivamente a nossa música
popular urbana dos anos 60 e 70, mas perdemos também uma trave-mestra
desse universo cada vez mais frágil e mais difuso que é o da guitarra
portuguesa e, especificamente, o da guitarra de Coimbra”.
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