Portal do Fado

Ao Bernardo Sassetti referiu que o que deverá acontecer esta noite na Aula Magna "não será uma transposição mecânica para o piano do que a Amália fez no fado". Esta será sim "uma homenagem muito humilde, onde a palavra e a dicção estão muito presentes, é quase como se estivéssemos a dizer palavras, que é algo que ando à procura há muitos anos", contou o pianista. Para este espectáculo, que surgiu como uma encomenda da Casa da Música, cenário onde estreou em Julho passado, os dois pianistas compuseram quatro temas inéditos inspirados em Amália Rodrigues. Dois deles serão interpretados a solo e os outros dois em duo. Sassetti confessou que um dos temas a solo, da sua autoria, Prelúdio para Amália, "tem toques muito subtis de Carlos Paredes". A admiração pela fadista já vem de "há muito tempo".

Bernardo Sassetti chegou mesmo a conhecê-la, "há 12 ou 13 anos, e ficou sempre no ar a ideia de podermos vir a fazer qualquer coisa juntos". Apesar de já a ter conhecido "numa fase tardia", o pianista recorda Amália "como uma pessoa maravilhosa, com um excelente sentido de humor e que, naturalmente, tinha uma enorme consciência daquilo que ela era; ela sabia que era a Amália e tinha um grande carisma, acho que este é mesmo o ponto principal", disse. O músico lembrou como a fase em que Amália trabalhou com Alain Oulman foi muito importante para a música portuguesa: "Oulman mudou aquela ideia de que a música portuguesa era uma arte muito dispersa na altura e acho que foi a influência francesa que veio trazer este novo fôlego à construção das músicas. O Oulman foi fundamental neste aspecto".

Todavia, deste período deverão ser interpretados apenas "dois ou três temas". E o músico deixou o aviso claro: "A ideia deste espectáculo não é a de uma espécie de rol dos temas mais conhecidos de Amália. Esta é a nossa homenagem". A partir deste tributo, Bernardo Sassetti e Mário Laginha quiseram também "mostrar a visão da música portuguesa" que é a deles. E por isso não serão apenas os fados de Amália Rodrigues que se farão ouvir na Aula Magna. "Vamos tocar no espectáculo um tema do José Mário Branco e dois do José Afonso. Do José Mário Branco será o Lembra-te Sempre de Mim, que aprendemos com o Camané; é um tema que consideramos muito simbólico e que dá para improvisar à nossa maneira.

Por outro lado, do José Afonso os temas escolhidos serão o Vampiros e o Traz Outro Amigo Também", contou. Com foi referido, este concerto está inserido numa campanha que visa a promoção, angariação de parceiros, fundos e chamada de atenção para a reabilitação do Jardim Botânico da Universidade de Lisboa. Por isso, o espectáculo vai começar precisamente com um discurso da actriz Beatriz Batarda sobre este espaço e a importância da campanha para a sua preservação. Sassetti referiu ao que o Jardim Botânico "é uma verdadeira pérola que tem de ser conservada" e recordou: "Vivi e cresci toda a minha vida a quatro minutos do Jardim Botânico. Sem ele, Lisboa vai tornar-se numa cidade diferente". Trago Fado nos Sentidos também entra nessa luta.