Mariza - Terra
Discos - Dezembro 02, 2009
Apesar do nome poder indiciar uma maior aproximação às raízes, este
"Terra" é de todos os discos de Mariza o que mais
longe se situa da matriz portuguesa, o mais híbrido de linguagens que vão do jazz ao flamenco, passando pela música
cabo-verdiana.
Em dois ou três temas, como "Alfama" (originalmente gravado por Amália Rodrigues) e "Já Me Deixou" (do repertório de Max), o fado ou o fado-canção estão lá, mas os idiomas musicais que realmente dominam no disco são o flamenco e o jazz. Neste contexto, o nome do álbum, "Terra", na acepção de planeta, acaba por fazer sentido.
A produção é assinada pelo espanhol Javier Limón que também toca guitarra flamenca. À secção de fado que é assegurada por Bernardo Couto (guitarra portuguesa), Diogo Clemente (viola de fado) e Marino de Freitas (baixo acústico), junta-se uma plêiade de músicos estrangeiros, a saber – Concha Buika e Tito Paris (nos duetos vocais com Mariza), Dominic Miller (guitarra acústica), Ivan Lins (piano), Horacio "El Negro" Hernández (bateria), Ivan "Melon" Lewis (piano), Piraña (percussões), Dany Noel (contrabaixo) e Carlos Sarduy (trompete).
À pergunta de João Bonifácio «Os festivais ‘world’, os músicos que conheceu, deram-lhe vontade de alargar o seu mundo sonoro?», Mariza responde: «Foram-me influenciando e sem isso não havia este disco. Mas talvez discorde de si: para mim, este álbum é como se eu estivesse com os pés assentes na minha terra e depois faço uma volta de 180 graus e volto à minha casa e à minha gente, como na frase do Miguel Torga: "Acabo sempre por vir dormir aqui".» (in "Público": Suplemento "Ípsilon", 20.06.2008). E reforça essa ideia com as seguintes palavras: «Neste disco, cada poema transmite uma mensagem. Temos o caso de um poema de Florbela Espanca ["Vozes do Mar"] que fala sobre Portugal, sobre o mar, sobre Camões e a mensagem é "Não nos vamos esquecer das nossas raízes, não nos podemos esquecer da nossa História, não nos podemos esquecer do que somos para podermos continuar em frente". E o mar faz parte de nós como povo. Falando de um poema de David Mourão-Ferreira, que se chama "Recurso", que fala de uma paixão, de um amor, de um destino, que acaba por não ser concretizado, é uma paixão inexplicável mas que não pode acontecer – é outra mensagem, porque há várias formas de paixão, muitas coisas que queremos e não acontecem.» (ibidem)
Não se podendo considerar, em boa verdade, o melhor trabalho da discografia de Mariza (inferior a "Fado Curvo" e "Transparente"), e apesar de alguma ligeireza de cariz comercial patente em certos temas ("Rosa Branca", por exemplo), "Terra" não deixa de ser um registo digno de referência. Para tal muito contribuem "Já Me Deixou", "Beijo de Saudade" (em dueto com Tito Paris), "Vozes do Mar", "Alfama", "Tasco da Mouraria" (belíssimo momento de intimismo autobiográfico em registo jazzístico), "Alma de Vento" e "Morada Aberta".
A produção é assinada pelo espanhol Javier Limón que também toca guitarra flamenca. À secção de fado que é assegurada por Bernardo Couto (guitarra portuguesa), Diogo Clemente (viola de fado) e Marino de Freitas (baixo acústico), junta-se uma plêiade de músicos estrangeiros, a saber – Concha Buika e Tito Paris (nos duetos vocais com Mariza), Dominic Miller (guitarra acústica), Ivan Lins (piano), Horacio "El Negro" Hernández (bateria), Ivan "Melon" Lewis (piano), Piraña (percussões), Dany Noel (contrabaixo) e Carlos Sarduy (trompete).
À pergunta de João Bonifácio «Os festivais ‘world’, os músicos que conheceu, deram-lhe vontade de alargar o seu mundo sonoro?», Mariza responde: «Foram-me influenciando e sem isso não havia este disco. Mas talvez discorde de si: para mim, este álbum é como se eu estivesse com os pés assentes na minha terra e depois faço uma volta de 180 graus e volto à minha casa e à minha gente, como na frase do Miguel Torga: "Acabo sempre por vir dormir aqui".» (in "Público": Suplemento "Ípsilon", 20.06.2008). E reforça essa ideia com as seguintes palavras: «Neste disco, cada poema transmite uma mensagem. Temos o caso de um poema de Florbela Espanca ["Vozes do Mar"] que fala sobre Portugal, sobre o mar, sobre Camões e a mensagem é "Não nos vamos esquecer das nossas raízes, não nos podemos esquecer da nossa História, não nos podemos esquecer do que somos para podermos continuar em frente". E o mar faz parte de nós como povo. Falando de um poema de David Mourão-Ferreira, que se chama "Recurso", que fala de uma paixão, de um amor, de um destino, que acaba por não ser concretizado, é uma paixão inexplicável mas que não pode acontecer – é outra mensagem, porque há várias formas de paixão, muitas coisas que queremos e não acontecem.» (ibidem)
Não se podendo considerar, em boa verdade, o melhor trabalho da discografia de Mariza (inferior a "Fado Curvo" e "Transparente"), e apesar de alguma ligeireza de cariz comercial patente em certos temas ("Rosa Branca", por exemplo), "Terra" não deixa de ser um registo digno de referência. Para tal muito contribuem "Já Me Deixou", "Beijo de Saudade" (em dueto com Tito Paris), "Vozes do Mar", "Alfama", "Tasco da Mouraria" (belíssimo momento de intimismo autobiográfico em registo jazzístico), "Alma de Vento" e "Morada Aberta".
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