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Mariza na espiral do tempo (entrevista)

Interviews - Dezembro 23, 2009
Dizer que Mariza canta fado com uma voz única é dizer muito pouco. Mariza é uma mulher irrepetível e um talento sem igual. Dá gosto ouvi-la cantar, mas também ouvi-la falar de si.



No seu tempo cabe tudo ou é mais o que fica por fazer em cada dia?

O que fica por fazer é sempre mais do que aquilo que consigo fazer.

Quando é que percebeu que tinha uma voz que podia explorar no sentido de poder viver dela?

Nunca tive essa percepção. A não ser agora, para aí nos últimos quatro anos da minha vida. Só agora começo realmente a perceber que as pessoas prestam atenção ao trabalho que faço, que gostam e tentam entender. Isso, para mim, é uma bênção! Poder cantar em alguns bares em Lisboa já era muito simpático mas, depois, veio um desafio maior e eu aceitei.

Acredita sempre na sua música?
Não sei se acredito ou se não acredito o que eu sei é que não sei fazer mais nada. Quando estou em palco dou aquilo que tenho. Se é bom ou mau, não sei, só quem ouve é que pode dizer se gosta. Eu não consigo dizer se é bom ou se é mau. No outro dia dizia uma amiga minha que o meu maior desafio seria um dia eu ver o meu próprio concerto. É uma coisa difícil de acontecer.

Quando vai ao Japão, por exemplo, onde a cultura e a percepção das pessoas é radicalmente diferente, sente essa diferença? Sente que as pessoas ouvem um Fado que nós não ouvimos?
Não consigo fazer esse separatismo de públicos. Aliás, nem gosto de chamar público aos espectadores. Gosto de lhes chamar amigos porque sinto que as pessoas que vêm ouvir a minha música, que se sentem atraídas pela sonoridade que eu faço, devem ser amigos. Não são estranhos...

 A sua música comove, faz chorar, faz ficar mais alegre, faz ficar mais triste...
A nossa música, porque não é só minha. É nossa, é Fado. Apesar de neste momento já ter um cunho muito pessoal e uma personalidade muito própria, a base, a raiz de tudo o que faço é Fado.

As pessoas falam de si sempre de uma maneira hiperbólica. Adoram, vibram, dizem que é arrepiante ouvi-la cantar... Isso faz com que a sua música saia ainda mais da alma?
Isso para mim é voltarem a carregar as minhas baterias. No final de um concerto estou esgotada, cansada, porque dou tudo, não sei subir a um palco ou a uma taberna ou onde quer que seja e 'cantar baixinho'. Não sei fazer isso e, portanto, quando canto, é para dar tudo. Os sentimentos, as emoções, a voz, tudo o que eu puder dar.

Em tournée, o que lhe dá mais prazer?

Depois de um concerto, sentar-me com os músicos e os técnicos, todos juntos, a fazer uma grande algazarra, uma grande jantarada. Bebermos uma grande taça de vinho tinto e estarmos ali todos à conversa. Dá-me imenso prazer.

O que é que aprendeu sobre si com esta vida?
Estou mais tranquila em relação às pessoas e a tudo. Por outro lado, estou mais exigente comigo e com os outros. Também tenho aprendido muito com artistas que nunca julguei conhecer.

Voltando ao início da nossa conversa, à sua relação com o tempo, pergunto o que seria para si um tempo ideal?
Gostava que um ano tivesse o dobro do tempo. Para mim, um ano passa a correr. Se contar com os concertos dos Coliseus do Porto e Lisboa que fechei no dia 1 de Novembro, já fiz 120 concertos este ano.

Actualmente qual é o seu maior sonho?
Tenho um grande sonho que tinha de ser concretizado a curto prazo: cantar para o Nelson Mandela. Amava cantar para ele!

Ele adoraria saber isso com certeza.
Como moçambicana, como cidadã do mundo, como portuguesa, adoraria cantar para o Sr. Mandela.

Para si o tempo entre a infância e a idade adulta foi uma vertigem, ou sente que foi um tempo demorado?
Nem consigo calcular. Acho que teve tudo a sua hora, o seu tempo e o seu momento.

Que outros sonhos tem, além de cantar para o Nelson Mandela?
Se pudessem juntar o Mandela e o Obama, era ouro sobre azul! Dois prémios Nobel da Paz, dois homens que foram presidentes pela primeira vez de países onde a raça tem um papel super importante - o Mandela foi o primeiro presidente negro de África do Sul e Obama é o primeiro presidente afro-americano de uma super potência que é o Estados Unidos - se pudéssemos juntar os dois, eu não me importava. (risos)

Se fosse voluntária, e porque o mundo não vive sem voluntários, qual era a sua área de voluntariado?
Que pergunta tão interessante. Há tantas coisas que eu gostaria de fazer como voluntária, mas é complicado porque não tenho tempo. Uma das situações que me deixam mais emocionada e até mais frágil, é quando vou aos hospitais e vejo pessoas abandonadas, sem visitas, sem alguém que lhes dê a mão ou um sorriso. Talvez gostasse de me dedicar a essas pessoas, a essa área.
Visão (adaptado)

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