Fado e... fado!


Antes de nascer o Fado nasceu o fadista, um personagem do ambiente boémio lisboeta e só lisboeta, que cantava as suas proezas. Mas quem era o "Fadista"?
Se tiver paciência para ler e reler todos os livros que constam da bibliografia fadista (...), poderá verificar que a palavra Fadista aparece pela primeira vez num livro que fala sobre a prisão do Limoeiro, publicado em 1848. Esta ocorrência surge como consequência da situação política portuguesa vivida no início do século XIX, com as invasões Napoleónicas em 1807.
A família real e a classe endinheirada foge para o Brasil e Portugal fica ... como diz o povo "sem rei nem rock" embora o rock não tivesse ainda sido inventado. Mas para ficar bem esclarecido ou formular uma opinião sobre este assunto, nada melhor que ler com atenção dois livros publicados com um ano de diferença, O Fado de Pincar de José Pinto Ribeiro de Carvalho (Lisboa:1858-1939) e um outro, completamente diferente chamado A triste canção do Sul de Alberto Augusto de Almeida Pimentel (Porto:1849, Queluz:1925). Neste livro pode verificar-se que a palavra Fado com expressão musical só aparece na 4ª edição do Dicionário de Lacerda de 1874.
Comparando as datas, facilmente se deduz que são inexistentes as alusões à palavra Fado como canção em datas anteriores a 1840. A não ser que se queira à viva força não distinguir "Fado Palavra" de "Fado Expressão Musical", então Luís de Camões (século XVI) já era no seu tempo fadista, pois no poema épico "os Lusíadas", nas suas 1102 estrofes, utiliza 17 vezes a palavra FADO.
Este assunto tem tanto de polémico como de apaixonante, isto para quem gosta de afirmar que gosta de Fado... como expressão musical. A talho de foice o Fado foi levado pelos estudantes para Coimbra, onde lhe deram um cunho bem pessoal, no cantar, tocar e no próprio ambiente de ar livre diferente do ambiente fechado de Lisboa. Como tal criaram uma nova canção. Por isso não diga Fado de Coimbra mas sim "Canção de Coimbra".