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Amália Rodrigues - En Español

Records - Abril 08, 2010
iPlay / 2010
É fácil pensar que ao cantar em castelhano Amália obedecia a meras conveniências tácticas da sua carreira internacional. Mas é sempre fácil perceber tudo ao contrário.

Em primeiro lugar, o castelhano só até meados dos anos 50 foi a língua dum dos territórios mais importantes da carreira de Amália, o México. A partir da estreia do filme “Les Amants du Tage” e da conquista do Olympia de Paris, França adoptou Amália, abriu-lhe as salas mais prestigiadas, pediu-lhe que ficasse por lá. E nem por isso Amália cantou tantas músicas em francês como em castelhano. Espanha e a América Latina tornaram-se aliás etapas breves em longas viagens onde, para além da França, a Itália e o Japão se tornariam destinos cada vez mais frequentes.

Em segundo lugar, Amália era tão teimosa quanto deve ser um grande intérprete. Só cantava o que lhe apetecia e a sua real gana era tão generosa para o que lhe parecia bom como impiedosa para o que era apenas assim-assim. Amália a cantar por frete não era nada habitual; quando muito chegaria ao ponto de experimentar; mas se uma música lhe não agradava deixava-a cair. Para nossa sorte, diga-se: porque tinha um gosto excepcional; e sabia bem o que interessava à sua voz e o que podia ser espelho da sua alma multifacetada.

Finalmente, Amália era uma cantora ibérica convicta. E repetiu-o muitas vezes sem medo de chocar patetas e puritanos que a acusavam de cantar à espanhola ou de perder tempo com espanholadas. Apaixonou-se pelo flamenco na sua primeira viagem a Espanha em 1943; e a partir daí, sentiu-se, como contou a Vítor Pavão dos Santos, “flamenca para toda a vida”. Em castelhano, cantou o reportório mais difícil a par das cançonetas mais ligeiras. No México, descobriu nas rancheras e nos corridos um mundo novo onde rapidamente ganhou aquele inexplicável à-vontade que pareceria vedado a estrangeiros. E só uma vez gravou em castelhano um dos seus maiores sucessos – que assim transformou em “Dar de Beber Al Dolor”.

Porque de paixão se tratava, ouvir Amália a cantar em espanhol é também entender algumas das raízes mais fundas da sua arte, inclusive da sua arte ao cantar em português. Mas é sobretudo um prazer enorme. E para a maioria das pessoas uma maravilhosa descoberta.

Já antes colaborei na edição dum “Amália en Español” mas desta vez fomos muito mais longe e conseguimos fazer muito melhor. Jorge Cervantes restaurou fitas (que bem precisavam de ser restauradas!) com a mestria e a musicalidade que revelou nos primeiros trabalhos que foi com gravações amalianas em 2009. Frederico Santiago e João Brito trabalharam até à exaustão na busca de material fotográfico surpreendente e revelador e o primeiro ainda usou o seu extenso conhecimento na escolha da melhor versão ou no contacto com os coleccionadores mais bem equipados – e não é de mais realçar a gentileza com que eles colaboraram connosco, o mesmo agradecimento sendo devido: ao Museu do Teatro; à EMI Music Spain que nos ajudou a encontrar a gravação de “Dar de Beber Al Dolor”, nunca antes editada em Portugal; a Vítor Pavão dos Santos que, além da luz que sempre é nos seus excelentes livros e textos, ainda nos deu a conhecer um comovente elogio que Gonzalo Torrente Ballester fez a Amália; à grande Luz Casal, que completou esse elogio com o seu depoimento de intérprete de génio; e a Hugo Ribeiro que gravou, nas décadas de 50, 60 e 70, muitos dos trechos escolhidos e ainda hoje nos ajuda com o seu humor e a sua extraordinária memória. 




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