Fado, estórias na noite - Rui Pimentel
Lisboa é a cidade que acolhe esta estória que, de forma crítica e actualíssima, conta o percurso de um jovem fadista, do anonimato até à fama.
Alfredo Cortiço (personagem principal), canta pela primeira vez o fado vadio (sessões de fado onde não há um elenco e portanto todos podem cantar) sob os ouvidos atentos do proprietário de uma casa de fado que o convida a fazer parte do elenco do seu estabelecimento.
Começa assim, a sua carreira de fadista. Chega mesmo a ser considerado uma das revelações da nova geração do fado e convidado a participar numa gala para a televisão em homenagem a Amália Rodrigues, a convite de um grande nome do fado (será João Braga?).
A trama policial desta estória gira em torno do fado e, caracteriza este meio bem português de forma bastante graciosa. Em Lisboa, começam a surgir assassinadas as "grandes senhoras do fado" (que curiosamente, são todas proprietárias de casas de fado). Formulam-se então várias teorias para caracterizar o "serial killer". Para uns será uma das dessas "grandes senhoras do fado", que terá começado a assassinar as concorrentes ao lugar de raínha do fado deixado por Amália Rodrigues.
Para outros, será um comunista que "elimina as fadistas decadentes e reacionárias". Há ainda quem pense que é um poeta de fraca qualidade que odeia as fadistas por nenhuma querer cantar a sua poesia (é particularmente engraçada a descrição do poeta). Há até a teoria de que é alguém que considera que o fado é do povo, e que o dinheiro o levou para maus caminhos.
É de facto espantosa a sátira feita pelo autor e são deliciosas as descrições dos personagens, que simbolizam as figuras reais que se movimentam no universo fadista. É seguramente um livro a não perder, para rir muito e para ser encarado na sua graça, com uma leve pontinha de seriedade.
Para terminar, uma breve referência ao autor: Rui Flunser Pimentel é arquitecto, mas há muito que se dedica aos cartoons e às caricaturas. É colaborador da revista Visão, onde semanalmente dá o seu contributo à crónica "Puro Veneno".