António Zambujo - Guia
Na década de 90, Mísia, Camané, Mafalda Arnauth e Cristina Branco trouxeram o novo para o fado. Não foi apenas uma mudança estética; socialmente, uma música que estava excessivamente conotada com o salazarismo chegou a novas gerações, mais descomplexadas face à pesada herança do passado, fosse ela verdadeira ou não.
Praticamente duas décadas depois, percebe-se que, abertos novos canais de comunicação, há uma transição em curso. A do diálogo entre o fado e outras linguagens, como são disso exemplo «Terra», de Mariza (com o universo latino), «Kronos», de Cristina Branco (de mãos dadas com música popular portuguesa) ou «Leva-me Aos Fados», de Ana Moura (o fado à moda da soul).
«Guia», de António Zambujo, parte das raízes de uma voz que começou no cante alentejano e que, ao terceiro disco, «Outro Sentido», foi finalmente reconhecido, para nos guindar por uma ideia de fado contemporâneo que abarca latitudes como o Brasil e a sua MPB ou o jazz, fruto também das muitas viagens nos anos mais recentes.
Zambujo não perdeu a alma fadista mas neste «Guia» o que sobra de mais
importante é o arrojo com que se superam fronteiras, ainda que o fado
sempre tenha sofrido a contaminação de outras latitudes estéticas. Por
isso, é tempo de prestar atenção a uma voz plenamente amadurecida e que
só precisa de mais visibilidade para se afirmar num campeonato muito
competitivo.