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E se o fado e o striptease se misturassem em palco?

Arquivo - Outubro 12, 2010
Nunca niguém se lembraria de misturar fado e striptease em cima do palco. O que vos posso dizer é que isso já aconteceu, com a fadista Beatriz da Conceição.

Striptease e fado não são propriamente dois tipos de espetáculos compatíveis. A Beatriz da Conceição que, além de ser uma fadista com uma capacidade estrondosa para dar o seu estilo próprio às melodias mais tradicionais é também uma mulher cheia de frontalidade, bem o pode dizer. Ora venham daí saber porquê.

 

1974. Eu, o guitarrista Arménio de Melo e a fadista Beatriz da Conceição estávamos a atuar na "Taverna do Embuçado", quando o empresário Sérgio de Azevedo - que era um homem ousado para  época - nos fez um convite: Durante quinze dias, teríamos um show de fado na sua recém-aberta casa de espetáculos, ali para os lados do Campo Grande, de nome "Frou-Frou".

 

Aceitámos o convite e lá fomos. Para os anos 70, o "Frou-Frou" era uma casa modernaça, com um palco elevatório e espetáculos para todos os gostos. Antes do fado, havia, nada mais, nada menos, do que striptease. Lembro-me de a artista austríaca entrar em palco através de uma língua gigante, que pendia numa boca que fazia parte do cenário. Do outro lado do palco havia um pénis com dois metros de altura, que servia de varão para a dança sensual.

 

Quando o strip acabava, as luzes eram desligadas, o aderecista retirava a boca e o pénis, e colocava as nossas duas cadeiras. Nós entrávamos no palco às apalpadelas para dar início à sessão da fado, que começava com as cortinas a abrir e a Beatriz a entrar a cantar.


"Que grande besugo!"

Ao fim de uma semana de espetáculos, era o dia de folga do aderecista e veio outra pessoa substituí-lo. Ninguém nos avisou, portanto fizemos o percurso habitual: findo o strip, entrámos no palco às escuras e sentámo-nos nas nossas cadeirinhas. Lembro-me de nessa noite o tema de abertura ser o "Canoa". Começámos a dedilhar os primeiros acordes, a cortina começou a abrir, acenderam-se as luzes e a Beatriz entrou em palco enfrentando um público que tentava conter o riso. Do lado direito do palco, lá estava ele: O pénis de dois metros.

 

Beatriz, que é conhecida pela sua veia portista, não conseguiu conter-se. Parou de cantar e, perante um público incrédulo, disse a seguinte frase: "Ena pá. Que granda besugo! A mim nunca me calhou uma coisa assim!"

 

A gargalhada foi geral e escusado será dizer que nessa noite foi pouco o silencio que se fez no "Frou-Frou" para se ouvir cantar o fado. O bom-humor, as larachas e as gargalhadas levaram a melhor.

Vital D'Assunção


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Comentários
#1 JoaoMenezes 2010-11-26 12:45 haha Fantástico!

Beiinho à D. Beatriz e abraço ao Sr. Arménio.
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