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Nova geração de músicos resgata o fado em Portugal

Arquivo - Outubro 26, 2010
O fado é um estilo musical amargurado, nascido sob o sol, o mar e as colinas sinuosas de Portugal. 

Eternizado pela diva Amália Rodrigues, segue a inspirar as canções populares. É de apertar o coração. Um som triste, uma resposta sobre a dor. Dor de amor, dor de passado. Assim é o fado, um estilo musical amargurado, nascido sob o sol, o mar e as colinas sinuosas de Portugal. Eternizado pela diva Amália Rodrigues, segue a inspirar as canções populares.

Lisboa é uma paisagem para ser ouvida. Os olhos enxergam uma moderna metrópole europeia, mas a música natural da cidade revela o ritmo de antigamente: no canto dos passarinhos, em ruas onde não cabe o barulho dos carros, na respiração cansada do bonde, subindo uma das sete colinas da cidade.

Em Lisboa, os sentimentos têm som. Por isso, a música da cidade é puro sentimento. Mais que um ritmo, um estado de alma. O fado surgiu em Lisboa, e não deve ter sido muito longe. Alguém pegou um pedacinho de saudade em uma janela, um restinho de tristeza saindo por uma porta, um pouquinho de melancolia achada na rua. Um artista inspirado jogou tudo isso na guitarra portuguesa e pronto: assim nasceu o fado.

O fado é tão amargurado que exige um instrumento em forma de coração. Só a guitarra consegue transmitir o que o fadista sente.

“Eu comecei com 6,7 anos a tocar piano e havia alguma coisa no piano que sempre me faltou: o piano não geme”, diz o fadista Pedro Castro.

Pedro Castro agarrou as cordas para se tornar um artista da nova geração de Lisboa. Ele foi um dos escolhidos pelo cineasta espanhol Carlos Saura para um filme em que a música é a personagem principal.

O curioso é que a guitarra portuguesa tinha tudo para ser um instrumento alegre, pelo timbre agudo e pela rapidez com que dispara suas notas.

“Como a nossa diva, imperatriz e imperadora, tudo, que foi a Amália [Rodrigues], era uma pessoa tendencialmente triste, é normal que o fado seja catalogado com essa tristeza”, explica o fadista Pedro Castro.

Portugal não superou até hoje a tristeza de viver sem Amália. A casa onde a cantora morava foi deixada do jeito em que estava quando ela morreu. A melhor amiga cuida pessoalmente de cada item.

“Não sou eu que preservo a memória da Amália. É a Amália que vive na memória de todos nós”, diz a melhor amiga da Amália Rodrigues, Estrela Carvas.

O guarda-roupa de vestidos pretos e o brilho dos adereços de uma diva deixam uma certeza: Amália se foi, mas nunca parou de cantar.

“A Amália era o fado. A Amália estava e era ela e vivia quando cantava”, comenta Estrela Carvas.

Amália Rodrigues levou para os palcos do mundo a melodia da cidade em que nasceu e viveu. A nova geração do fado continua com os pés firmes em Lisboa. Mas presta muita atenção nos sons que o vento traz do outro lado do mar.

Antônio Zambujo é a voz da música portuguesa contemporânea: “Eu tenho uma formação que passa pela minha região, pelo Alentejo, pela música popular brasileira, pelo norte da África e Espanha”.

Ele faz parte de uma geração que salvou o fado das garras da política. Durante quatro décadas, a ditadura de Salazar foi impiedosa com os cantores. O carimbo da censura caía até sobre versos quase inocentes, como este: "quando eu casar contigo, vai nascer todos os dias uma porção de Marias de olhinhos da cor dos teus".

Ao mesmo tempo, o fado era uma das únicas manifestações culturais permitidas. Acabou por ser rotulado com um instrumento da opressão. A juventude do fado, pressionada à esquerda e à direita, não desistia de enxergar um futuro iluminado pela música.

“Tinha que ouvir assim meio refugiado, tinha que ouvir as minhas músicas um pouco sozinho ou com algumas pessoas que gostavam também como eu”, conta Antônio Zambujo.

Em vez daquela explosão de tristeza, Zambujo acredita que o fado pode ser suave, e nem por isso perder a intensidade.

A cada voz diferente que canta Lisboa, fica a certeza de que ninguém inventou o fado. Ele já estava escrito nas paredes da cidade, onde cada telhado é uma nota musical.

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