E todos cantaram para Fernanda Maria
Numa noite em que apenas destoou (e foi pena, pois cantou muito bem), Ana
Moura.
A fadista que insiste em trajes que não a beneficiam, foi a
única que não cantou um fado do repertório de Fernanda Maria, era esperado que cantasse “Não passes com ela à minha
rua”, mas não, esse fado foi entoado por todos enquanto saíam saudando Fernanda
Maria com beijos, abraços, e o carinho de amigos, colegas e
admiradores.
Num elenco primoroso, sem dúvida, que o destaque vai
para Filipa Cardoso, numa noite inspirada. Elegantemente vestida, Filipa
interpretou com garra e alma os dois temas que escolheu, entre eles, o
fado da “Mulher trocada”, arrancou os primeiros “ah fadista” da noite e
foi amplamente aplaudida por um público que não a queria deixar sair do
palco, segui-se-lhe Ricardo Ribeiro que faz jus ao gabarito
que goza no meio fadista.
Da plateia Maria Armanda não parou de
o incitar e gritar “Aí Ricardo”. Na realidade estiveram todos bem,
talvez com a excepção de Cristina Navarro, menos inspirada. Ana Sofia
Varela mostrou-se em grande forma, e Gonçalo Salgueiro – a quem cabia
fechar por pleno direito fechar o espectáculo - “rasgou-se” em absoluto
para interpretar “O Grito” de Amália Rodrigues ("Silêncio"), seguido de
um Fado Corrido do repertório da sua fadista de eleição.
Com uma
facilidade brutal, Gonçalo Salgueiro evidenciou emoção e brotou voz, entoando com grande dinamismo agudos e graves – tem-nos
lindíssimos – mas prejudicando (opinião minha) uma plena interpretação.
Poderia ter sido absoluto.
Apesar de lhe terem gritado “ah fadista” e “o menino é lindo” (e é!) não precisava de abrir a camisa de folhos e mostrar peito.
Para
mim surpresa foi Luís de Matos (não o ilusionista), cantou muito bem,
assim como Pedro Moutinho que se saiu muito bem na interpretação de
“Saudade vai-te embora”.
Ana Maurício também se destacou pela voz e
empenho colocado na interpretação, fadista a plenos pulmões. Aldina
Duarte soube criar um excelente momento de fado, como sempe muito bem.
Uma noite absoluta de fado em que todos os acompanhantes se mostraram à
altura, principalmente o primeiro quarteto de músicos – Pedro Castro,
Luís Nobre Costa, Jaime Santos Jr. e o incrível Joel Pina – assim como o
trio que se lhe seguiu – José Manuel Neto, Carlos Manuel Proença e
Daniel Pinto -. Aplauso para apresentação de um grande senhor da
comunicação, António Sala que nos fez pensar o quão importantes são os
bons apresentadores, de escola feita, que sabem pisar um palco e não
sendo enfadonhos percebem a elegância de certas ocasiões não sendo
despropositados e, bem antes pelo contrário, muito oportunos. Esteve
muito bem no apoio que deu à Fernanda Maria quando subiu a palco e a
emoção lhe deteve o raciocínio, embargando-lhe a voz. Esteve aliás
sempre muito bem. Parabéns!
Parabéns a toda a equipa, à Blú, ao Gonçalo e ao Carlos Cruz 2, absolutamente impecáveis!
Falando
de presenças (vamos seguramente falhar nomes), estavam muitos artistas presentes,
estávamos aliás na casa deles por assim dizer, o Teatro situa-se na Casa
do Artista. Logo na primeira fila, claro está Fernanda Maria,
absolutamente bem sentada do lado direito da plateia, o esquerdo de quem
canta, acompanhada por familiares e a presidente da Casa do Artista,
Manuela Maria, e também Linda Silva, e o jornalista Nuno Lopes.
Na plateia entre outros nomes, pudemos ver Maria da Fé, Maria
Armanda, Natalina José, Florinda Maria, Julieta Reis, a cenógrafa e
figurinista Helena Reis, e Ana Maria Mendes (da APAF).
Muitas
flores, palavras amáveis e gentis de cada fadista que subiu a palco,
uma Fernanda Maria linda e comovida, uma noite sem discursos nem medalhas
de hipocrisia.
Parabéns Blú; parabéns Gonçalo Salgueiro, parabéns a
todos e o nosso obrigado. Terminamos esta crónica como Sala terminou o
espectáculo: “Viva à Fernanda Maria!”.