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Frederico de Brito

Letristas - Actualizado em Maio 09, 2014
Figura emblemática, Frederico de Brito, ou Britinho, - como era mais conhecido – afirma-se como poeta e compositor de alguns dos temas mais interpretados no universo fadista

É também autor de poemas e músicas que reflectem uma rara e peculiar beleza artística.

Joaquim Frederico de Brito nasceu na freguesia de Carnaxide, em Oeiras, em 1894. Tinha apenas oito anos quando leu o livro “Lira de Fado” de Avelino de Sousa, sentindo-se de tal forma inspirado que, desde essa altura, começou a fazer versos para o seu irmão mais velho, João de Brito, cantar em festas de amadores. Nessa época morava no bairro de Alcântara e a sua juventude causava dúvidas na autoria de poesia que, posteriormente, se dissiparam quando o próprio passou a interpretar os versos, como improvisador.

Em entrevista a João Linhares Barbosa para o jornal “Guitarra de Portugal” de 31 de Julho de 1923, Frederico de Brito conta como começou “trabalhando no repentismo do verso”, há uma dezena de anos na Ajuda: “Depois de muitos glosamentos, onde o Manuel Maria mostrou o seu valor, (…). Eu, meu caro Barbosa, senti cá dentro… sabe o quê? Eu lhe digo… a inveja, que n’esse caso é santa. Foi este o toque de clarim, (…). De então fiz-me como você sabe: improvisador”.

Desta forma convenceu os mais incrédulos da sua potencialidade criadora e “iniciou a sua longa carreira de poeta popular, que até cerca dos 30 anos acumulou com a de cantador, participando em vários espectáculos públicos, como aconteceu com a opereta “História do Fado”, em que actuou como atracção cantando versos seus.” (Sucena: 283).

Frederico de Brito foi estucador, taxista e, mais tarde, trabalhou na Companhia de Petróleos Atlantic (depois BP), mas manteve sempre a sua actividade de poeta, escrevendo “em qualquer parte e quando tenho necessidade de o fazer: em casa, na rua, no café, no escritório e até no carro eléctrico…” (cf. “Guitarra de Portugal”, 30 de Junho de 1945, pág. 4).

Em 1930 Frederico de Brito publica o livro “Musa ao Volante: quadras”, com prefácio de Albino Forjaz de Sampaio e dois anos depois, em 1932, “Terra Brava: versos”, desta feita com uma carta prefácio de Teixeira de Pascoais.

Nos alvores da década de 1930, Joaquim Frederico de Brito está entre os autores de fado mais procurados, ao lado de outros grande poetas populares do fado, como Henrique Rego, João da Mata, Linhares Barbosa, Francisco Radamanto, Carlos Conde, Gabriel de Oliveira ou Armando Neves (Nery: 210).

Paralelamente Frederico de Brito tem uma colaboração activa com um dos mais importantes jornais de temática fadista, a “Guitarra de Portugal” e, a 1 de Fevereiro de 1941, apresenta-se como director e editor do jornal “O Galarim”.

A partir de 1934, Frederico de Brito torna-se, também, autor de marchas para os bairros de Lisboa. Muitas das suas criações acabaram por se tornar clássicos das apresentações como é o caso, por exemplo, do tema “É raparigas”, com música de Raul Ferrão, que a Marcha de Benfica apresentou pela primeira vez no desfile de 1934; ou da “Marcha de Marvila de 1963”, com música de Alves Coelho Filho, posteriormente interpretadas ao longo das décadas seguintes.

A sua extensa produção de poemas para as marchas populares prolonga-se entre os anos de 1934 e 1969, colaborando com os bairros da Ajuda, Alcântara, Alfama, Alto do Pina, Bairro Alto, Benfica, Bica, Campo de Ourique, Campolide, Castelo, Chelas, Graça, Madragoa, Marvila, Mouraria, Olivais, Santa Catarina e São Vicente.

Também no teatro Frederico de Brito deixa a sua marca, estreando-se nesta faceta com a peça “Anima-te Zé”, apresentada em 1935 no palco do Teatro Maria Vitória. Sucedem-se parcerias na escrita de diversas revistas, das quais destacamos: “Chuva de Mulheres”, apresentada em 1937 no Éden Teatro, onde Frederico de Brito escreveu os textos com V. de Matos Sequeira, A. Amaral e L. Lauer, a que se aliaram as músicas de C. Calderón e F. Valério (nesta revista Hermínia Silva interpreta o famoso tema “Soldado do Fado”, com letra de Frederico de Brito e música de Frederico Valério); e “Sol e Dó”, levada à cena no Teatro Variedades, em 1943, com textos de Frederico de Brito, C. Alberto, Ascensão Barbosa, A. Nazaré e A. Cruz, e músicas de F. de Carvalho. (cf. Rebello: 88; Sucena: 286).

Ainda neste âmbito, Frederico de Brito, em parceria com José Galhardo e Carlos Lopes, foi autor dos textos da peça “Haja Saúde”, a qual inaugurou o palco do Teatro ABC, no Parque Mayer, em Janeiro de 1956.

No decorrer de várias décadas de intensa produção criativa acredita-se que “até ao final da sua longa vida tenha escrito mais de um milhar de letras e várias centenas de músicas.” (Guinot, Carvalho e Osório: 318). Mas deste imenso universo são de destacar as suas criações musicais e poéticas para o fado, de que lembramos os inesquecíveis “Fado do Britinho”, “Fado da Azenha”, “Fado dos Sonhos”, “Biografia do Fado”, “Janela Virada para o Mar”, “Não digam ao fado…”, “Canoas do Tejo” ou “Carmencita”. Os seus fados foram criados e gravados por vozes igualmente consagradas como Carlos Ramos, Tristão da Silva, Amália Rodrigues, Beatriz da Conceição, Carlos do Carmo, Fernanda Maria ou Lucília do Carmo.

Joaquim Frederico de Brito faleceu com 85 anos, deixando um grande legado de criatividade artística, o qual é constantemente recordado, quer pela audição dos intérpretes e criadores originais da sua poesia e música, quer pelas constantes homenagens patentes na interpretação dos seus temas, constantemente revisitados pelas mais jovens gerações do fado.Museu do Fado


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