Maria Alice
Fadistas - Actualizado em Junho 23, 2011


De facto, seus pais sempre viveram naquela cidade e haviam-se mudado pouco tempo antes da criança nascer. Filha de José Leal e de Maria José Mendes, a pequena Glória não foi registada com o sobrenome do pai, o que muito a desgostava, e que a levou a "adoptar"o apelido Leal nas assinaturas correntes. Aos 14 anos sai de casa e vem para Lisboa na companhia daquele que viria a ser o pai dos seus dois filhos (António, 1921 e Graciete, 1923), o advogado Bernardino Morais. Pela mão de Adelina Fernandes, e apadrinhada por Maria do Carmo, Glória entra no meio fadista. Será Adelina quem a levará um dia, em 1928, ao “Ferro de Engomar” e Glória, que já cantava por gosto, em casa, experimenta fazê-lo em público, obtendo grande sucesso.
Adoptou então, o nome artístico de Maria Alice e nunca mais lhe faltou trabalho, como cantadeira, quer em Portugal, quer no Brasil, onde esteve por duas vezes, uma delas durante cinco meses e obteve os maiores êxitos. Cantou nos retiros “Ferro de Engomar” (onde se estreou em 1928), “Charquinho”, “Caliça” e “Pedralvas”, em várias festas de beneficência e em esperas de touros. Em 1931 cantou na opereta «História do Fado», de Avelino de Sousa. Com Leonor Fialho, apresentou-se no Coliseu de Coimbra, no Domingo, dia 4 de Outubro de 1931, acompanhadas por Armando e José Marques.
Em 1932, num concurso realizado no Rio de Janeiro, foi-lhe atribuído o título de"A Melhor Cantadeira (que por acaso se chamava Maria Alice...). Em 1934 deslocou-se ao Brasil integrando o elenco da Companhia de José Loureiro, de que faziam parte Estevão Amarante, Adelina Abranches, Maria Sampaio e Lina Demoel, bem como o cantador Manuel Cascais, o guitarrista Casimiro Ramos e o violista Armando Silva. Em 1943 formou um agrupamento artístico, a Troupe Music-Hall, de que faziam parte também Rui Metelo, Octávio Bramão, Mário Fernandes e Dora Vieira, com o qual fez bastantes espectáculos, tendo esse grupo, nesse mesmo ano, embarcado no navio Quanza com destino à África Portuguesa. (Cf. Canção do Sul, 16 Agosto, 1943) Certa vez, no Rio de Janeiro, conjuntamente com Berta Cardoso e Ercília Costa, entrou num concurso do "Mais Lindo Sorriso", com o público directamente a votar, alcançando o 1º prémio.
Pode dizer-se que alcançou a glória no meio artístico português. Conheceu Valentim de Carvalho vindo com ele a casar na década de quarenta. Adopta então o apelido do marido e retira-se por completo dos meandros do Fado, passando a viver apenas para a família, na sua casa, no Restelo. Quando o marido morre, instala-se no Hotel Internacional, onde permanece largos anos. Os últimos anos, um pouco mais difíceis e dependentes, passa-os no Lar Orquídea Vermelha, na freguesia do Lumiar. A Câmara Municipal de Lisboa, com o propósito de perpetuar a memória da fadista, atribuiu o seu nome a uma rua de Lisboa, situada no Bairro da Cruz. Faleceu com 92 anos, no dia 13 de Fevereiro de 1996. Armando Neves fez-lhe a letra que ela cantava no "Fado Margarida": «Tanto na vida já tenho cantado o fado que o destino me predice que o povo português que adora o Fado me chama com razão Maria Alice.
Este nome é a Estrela do meu norte: Maria Alice sou p´ra toda a gente, Maria para a vida e para a morte Alice para o Fado eternamente. Maria Alice é um nome que, afinal, contém, não sei que mágica beleza! Maria da tristeza em Portugal, Alice da saudade portuguesa. Maria Alice canta, ri e chora o fado tão antigo e sempre novo; e se o povo a Maria Alice adora também Maria Alice adora o povo !» (Cf. João Brás, in Canção do Sul, 16 Fevereiro de 1936). (Museu do Fado)