Sandra Correia em Tours
Concerts - Março 13, 2011
Foi com muitas lágrimas que terminou a digressão da Sandra Correia em Tours. Uma digressão que, exceptuando um espectáculo em Loire, levou o fado a locais alternativos e underground (alguns literalmente, como as catacumbas em Tours, com o nome “Cave Alex”) fora da tradicional rota do Fado para emigrantes. A destacar, Le Palais, em Le Mans. Um espaço mais dedicado ao Jazz, onde o Fado nunca entrara antes. Sentia-se a desconfiança no ar. O Fado era, claramente, algo misterioso e desconhecido. Após os primeiros acordes de Saudades de Júlia Mendes, com que Sandra Correia abriu o espectáculo, a plateia ficou rendida, ora acompanhando com palmas ora emocionando-se, ainda que não entendendo uma palavra, obrigando no final a dois encores.
Franceses, Belgas, Espanhois, não conseguiam esconder a emoção. Como podem os estrangeiros sentir o Fado sem perceber uma única palavra, perguntava o único português presente na plateia, um afinador de pianos residente em Le Mans, emocionado. É uma das belezas do Fado. Podem. O espectáculo no Théatre Vaugarny, no coração do Vale do Lys, um teatro lindo, no meio duma floresta, num pequeno complexo de ateliers com residencia para artistas, foi uma surpresa fabulosa.
Ficando no meio da floresta e estando a chover e frio, parecia que não iria aparecer ninguém, a uma hora de iniciar o espectáculo. Esgotou. Não havia lugar nem para mais um. Assim de repente....de onde apareceu aquela gente toda, para ouvir Fado?? Foi também a primeira vez que o Fado foi cantado ali. A Sandra prometeu voltar, ao segundo encore.
A Cave Alex bateu tudo no que respeita ao inusitado que foi esta digressão. Umas catacumbas, onde costuma haver rock e metal. Um espectáculo esgotadíssimo, por parte de um público que ia assistir a Fado pela primeira vez. De pé, como se fosse rock. Todos bem juntinhos, do palco até ao fundo, piercings, tatuagens, botas da tropa...mas não ia haver mosh nessa noite! Aos primeiros acordes dos violinos que entraram no “Trago Fado nos Sentidos”, não houve “durão” que não chorasse. Foi surrealista. Até a Sandra chorou enquanto cantou. Não há coração que resista.Vasco Silva
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