Não há só fados em Cristina Branco
Concertos - Abril 01, 2011
Teatro São Luiz - Lisboa - 31.03.2011
No palco esperavam-na um piano de cauda, um contrabaixo e um acordeão, instrumentos que davam a partida para uma viagem que se previa de longo curso mas que voltaria sempre às ruas do fado. E tudo até começou a seguir a pauta do fado tradicional com Não É Desgraça, do novo "Não Há Só Tangos em Paris". Trago um Fado de "Kronos" antecede a confissão: «estou muito nervosa». Segue-se o francês de Baudelaire tratado com luxo pela fineza da voz de Branco e o veludo do piano de João Paulo Esteves da Silva, em Invitation au Voyage. E de seguida, o São Luiz sente ao de leve o perfume dos Deolinda com Não Há Só Tangos em Paris, escrita pelo «amigo» Pedro da Silva Martins.
Sempre humilde, Branco apresentou em tom de reverência, todos os autores das canções. Do outro lado, o público, sempre respeitoso, estendeu ao máximo a duração dos aplausos, numa troca muda de elogios. Ouve-se então o castelhano na canção tradicional argentina Serenata, sempre sussurrada pelo acordeão. E com Anclao en Paris, de repente estávamos entre La Boca e Montmartre. Entre Buenos Aires e Paris. Porque o «fado canta-se e dança-se sempre da mesma maneira onde quer que seja», ouviu-se depois em Longe do Sul de Carlos Bica. Voltamos ao último disco com Dá-me o Braço Anda Daí, porque o «fado tem um lado muito sensual» e o poema de Manuela de Freitas sobre a música de Fado Súplica chamado Se Não Chovesse Tanto, Meu Amor.
Com o avançar do concerto, Branco foi ficando mais descontraída, baixando de vez a guarda quando o guitarrista Bernardo Couto partiu a unha logo ao início de um tema instrumental, um prelúdio inesperado para o que viria a ser um dos grandes momentos do concerto. Para não parar o espectáculo, Branco chama mais cedo Mário Laginha para dar música a um poema de António Lobo Antunes. Só piano e voz para Quando Julgas que me Amas. E é nestes momentos de nudez musical que voltamos a perceber porque é que no meio de uma geração de intérpretes únicas de fado, Cristina Branco é um caso especial. Pela forma como se rodeia de músicos vindos de outros mundos. Pela maneira como dá vida às suas composições. Pela naturalidade com que foge do fado para outros caminhos. Por trilhos como Um Amor de Laginha e Maria João, cantado com igual emoção em castelhano. Ou como o clássico da música cubana Dos Gardénias.
Segue-se o primor da composição de Laurindinha e o cuidado de explicar que Cansaço, é um poema de Luís de Macedo sobre a música de Fado Tango, porque entre todas as viagens onde Branco nos leva, há sempre um regresso ao ponto de partida: a genealogia do fado. Aliás a cantora acabaria por deixar essa espinha dorsal completamente à mostra quando apresentou o homem do jazz (e do contrabaixo), Bernardo Moreira, com um expressivo «tu de fado não percebias nada. Mas aprendeste rapidinho».
Ainda se viajaria até "Ulisses" com Sete Pedaços de Vento, mas o primeiro tema a ser trauteado pelo público seria mesmo Bomba Relógio, escrito por Sérgio Godinho. A audiência ainda ficou a saber que o homem das letras,Carlos Tê, «também compõe», embora tenha sido com «alguma timidez» que ofereceu a Branco a música para Canção de Amor e Piedade. E como já se aproximava o fim, não podia deixar de vir a homenagem a Amália Rodrigues, com Meu Amor É Marinheiro, obra conjunta de Manuel Alegre e Alain Oulman. O público retribui com uma ovação pedindo um encore que Branco começou em Fado Menor com Os Teus Olhos São Dois Círios. Como não «fazia sentido acabar com uma coisa tão triste», ouvem-se os acordes de Maria Lisboa para a despedida da capital. Uma cidade que está desejosa de dar a Cristina Branco a consagração numa sala com mais espaço. Para o público e para a sua alma.
No palco esperavam-na um piano de cauda, um contrabaixo e um acordeão, instrumentos que davam a partida para uma viagem que se previa de longo curso mas que voltaria sempre às ruas do fado. E tudo até começou a seguir a pauta do fado tradicional com Não É Desgraça, do novo "Não Há Só Tangos em Paris". Trago um Fado de "Kronos" antecede a confissão: «estou muito nervosa». Segue-se o francês de Baudelaire tratado com luxo pela fineza da voz de Branco e o veludo do piano de João Paulo Esteves da Silva, em Invitation au Voyage. E de seguida, o São Luiz sente ao de leve o perfume dos Deolinda com Não Há Só Tangos em Paris, escrita pelo «amigo» Pedro da Silva Martins.
Sempre humilde, Branco apresentou em tom de reverência, todos os autores das canções. Do outro lado, o público, sempre respeitoso, estendeu ao máximo a duração dos aplausos, numa troca muda de elogios. Ouve-se então o castelhano na canção tradicional argentina Serenata, sempre sussurrada pelo acordeão. E com Anclao en Paris, de repente estávamos entre La Boca e Montmartre. Entre Buenos Aires e Paris. Porque o «fado canta-se e dança-se sempre da mesma maneira onde quer que seja», ouviu-se depois em Longe do Sul de Carlos Bica. Voltamos ao último disco com Dá-me o Braço Anda Daí, porque o «fado tem um lado muito sensual» e o poema de Manuela de Freitas sobre a música de Fado Súplica chamado Se Não Chovesse Tanto, Meu Amor.
Com o avançar do concerto, Branco foi ficando mais descontraída, baixando de vez a guarda quando o guitarrista Bernardo Couto partiu a unha logo ao início de um tema instrumental, um prelúdio inesperado para o que viria a ser um dos grandes momentos do concerto. Para não parar o espectáculo, Branco chama mais cedo Mário Laginha para dar música a um poema de António Lobo Antunes. Só piano e voz para Quando Julgas que me Amas. E é nestes momentos de nudez musical que voltamos a perceber porque é que no meio de uma geração de intérpretes únicas de fado, Cristina Branco é um caso especial. Pela forma como se rodeia de músicos vindos de outros mundos. Pela maneira como dá vida às suas composições. Pela naturalidade com que foge do fado para outros caminhos. Por trilhos como Um Amor de Laginha e Maria João, cantado com igual emoção em castelhano. Ou como o clássico da música cubana Dos Gardénias.
Segue-se o primor da composição de Laurindinha e o cuidado de explicar que Cansaço, é um poema de Luís de Macedo sobre a música de Fado Tango, porque entre todas as viagens onde Branco nos leva, há sempre um regresso ao ponto de partida: a genealogia do fado. Aliás a cantora acabaria por deixar essa espinha dorsal completamente à mostra quando apresentou o homem do jazz (e do contrabaixo), Bernardo Moreira, com um expressivo «tu de fado não percebias nada. Mas aprendeste rapidinho».
Ainda se viajaria até "Ulisses" com Sete Pedaços de Vento, mas o primeiro tema a ser trauteado pelo público seria mesmo Bomba Relógio, escrito por Sérgio Godinho. A audiência ainda ficou a saber que o homem das letras,Carlos Tê, «também compõe», embora tenha sido com «alguma timidez» que ofereceu a Branco a música para Canção de Amor e Piedade. E como já se aproximava o fim, não podia deixar de vir a homenagem a Amália Rodrigues, com Meu Amor É Marinheiro, obra conjunta de Manuel Alegre e Alain Oulman. O público retribui com uma ovação pedindo um encore que Branco começou em Fado Menor com Os Teus Olhos São Dois Círios. Como não «fazia sentido acabar com uma coisa tão triste», ouvem-se os acordes de Maria Lisboa para a despedida da capital. Uma cidade que está desejosa de dar a Cristina Branco a consagração numa sala com mais espaço. Para o público e para a sua alma.
Rita Tristany | Fotos: Vanessa Krithinas
Artigos Relacionados
Comentar