Duarte Pais
Fadistas - Actualizado em Junho 23, 2011


Duarte Pais, para além de ter trabalhado como empregado comercial, desenvolveu todo o seu percurso profissional como operário na fábrica de borracha BIS, onde chegou a ser encarregado das oficinas.
Paralelamente Duarte Pais desenvolveu um gosto particular pelo fado e, sem nunca abdicar da sua carreira profissional, foi a pouco e pouco, fazendo uma carreira enquanto cantador de fados. Com 18 anos começa a cantar em festas particulares com outros amigos e, a partir daí, faz um percurso que inclui praticamente todas as colectividades de cultura e recreio de Lisboa.
Nas décadas de 1930 e 40, em paralelo com a grande dinâmica das chamadas “casas típicas”, há também um grande número de colectividades que apresenta, aos fins de semana, matinés e espectáculos de fado e variedades. Duarte Pais integra regularmente os elencos destes espectáculos, nomeadamente em espaços como a Sociedade União Operária de Carnide ou a Academia Musical União Familiar de Telheiras (espaços que nos revelam bem a amplitude do fenómeno destes espectáculos numa área muito abrangente da cidade) e, posteriormente, toma mesmo a seu cargo a organização deste género de eventos.
Mais tarde começa a ter outro tipo de solicitações e, em Julho de 1944, estreia-se na Cevejaria Luso, com tal sucesso que permanecerá vários anos como artista privativo deste espaço. Nesta altura o jornal “Canção do Sul” anunciava: “deixou de figurar nos cânones do amadorismo o cantador Duarte Pais, que se apresentou na Cervejaria Luso”, mais afirmava-se que “Duarte Pais já não é um ilustre desconhecido (…) - no entanto apresentamo-lo como um cantador sentimental de boa classe e que revela no seu trabalho fadístico uma sobriedade de estilo que o público aglutina e palmeia sem regatear.” (cf. “Canção do Sul”, 1 de Agosto de 1944, pp. 3).
Duarte Pais dinamizou espectáculos de fado no Café Vera Cruz, passou pelo Retiro dos Marialvas e pela Sala Júlia Mendes, entre outros espaços. Realizou inúmeras tournées por todo o país, algumas integrando o grupo artístico de fados “Os Trovadores”, agrupamento que em 1943 contava ainda com os nomes de Alice Magina, João Gonçalves, António Silva e Manuel Delgado e que, no decorrer da década, foi sofrendo algumas alterações na sua formação.
A sua faceta enquanto organizador de espectáculos levou-o a obter no SNI (Secretariado Nacional da Informação) uma autorização especial para esse efeito, em 1950. Durante muitos anos dirigiu artisticamente a programação da Adega Perez, na Rua Conde Valbom.
Duarte Pais foi sempre uma presença fiel em espectáculos de homenagens a colegas fadistas e em festas cujos fundos revertiam para obras de beneficência. Para além de desenvolver a sua carreira profissional como fadista, integrando os elencos de algumas das melhores casas de fado de Lisboa, manteve a sua outra actividade profissional diária na fábrica de borracha Bis.
Embora Duarte Pais não nos tenha deixado registos discográficos que permitam conhecer hoje as suas qualidades interpretativas, é notório o percurso que fez nos espaços de fado e em digressões nacionais, considerado “um cantador que se impõe, pelo seu porte correcto, e nos delicia com a sua agradável voz” (cf. “Guitarra de Portugal”, 15 de Dezembro de 1946, pp. 4).
Acrescente-se que Duarte Pais era um homem com ideais de esquerda. Esteve presente no 1º Congresso do Partido Comunista Português realizado após o 25 de Abril, em Outubro de 1974. E, nessa altura, visitou toda a Europa de Leste.
Faleceu em 6 de Novembro de 1978, no seu posto de trabalho na fábrica de borracha BIS. Tinha 64 anos e faltavam-lhe apenas 2 anos para a reforma.MF