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Investigadores céticos quanto às vantagens da candidatura do Fado

Arquivo - Novembro 16, 2011
Os investigadores e fadistas Vítor Duarte Marceneiro e Daniel Gouveia afirmam-se céticos quanto às vantagens para o Fado, caso a sua candidatura a património imaterial da humanidade saia vencedora no final do mês.

De 22 e 28 de novembro em Bali, na Indonésia, reúne-se a VI Convenção da UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), durante a qual o Comité Inter-Governamental, constituído por 24 países, dá o seu veredito sobre a candidatura portuguesa.

"O parecer [altamente elogioso] do comité de sábios da UNESCO sobre a candidatura portuguesa é muito positivo", disse à agência Lusa Daniel Gouveia que se afirmou "cauteloso" e aconselhou que "não devemos embandeirar em arco".

Questionado pela Lusa sobre quais as possíveis consequências para o universo fadista caso Fado seja inscrito na Lista do Património Imaterial da Humanidade, Vítor Duarte Marceneiro respondeu: "Não sei".

Neto do fadista Alfredo Marceneiro, distinguido em 2007 com o Prémio Amália Ensaio/Divulgação, Vítor Duarte Marceneiro, admitiu desconhecer as vantagens que possa trazer para o fado ou a prática fadista a aprovação da candidatura.

"Desconheço completamente. Sinceramente, sem mal ou qualquer má vontade, desconheço, não consigo compreender; daí que eu seja considerado `persona non grata` pelo próprio Museu do Fado", disse o fadista filho de Alfredo Duarte Júnior, que a imprensa apelidou de "fadista bailarino".

Daniel Gouveia, autor do ensaio "Ao fado tudo se canta?", afirmou por seu turno que "vai depender muito das pessoas que são os decisores e atores do Fado nas suas várias vertentes, desde donos de restaurantes típicos, intérpretes, os guitarristas e teóricos e não sei qual será a reação, a primeira será de contentamento, mas não sou muito otimista acho que vai ficar tudo como dantes".

Fadista, guitarrista, letrista e também investigador, Daniel Gouveia disse que "os fadistas que estão nos circuitos do espetáculos internacionais serão os mais beneficiados e com isso haverá mais divisas para Porrugal, e talvez haja também mais edições discográficas",

"Em termos internos não vão abrir mais casas de Fado, irão até fechar por causa da crise, mas é tudo uma incógnita", afirmou.

Para Daniel Gouveia, membro da Comissão Consultiva da candidatura, "a maior incógnita é quanto ao comportamento das instituições oficiais, o que o Governo, o Estado, vai fazer com este galardão".

Vítor Duarte Marceneiro autor, entre outras, de uma biografia do avô e outra de Hermínia Silva afirmou à Lusa que "tudo o que seja a favor do Fado, para o enaltecer como uma coisa nacional tudo bem".

Marceneiro, que citou o seu blogue "Lisboa no Guiness", que conta com mais de 70 mil visitas, afirmou que com a vitória da candidatura "as pessoas vão conhecer mais o Fado", mas questionou: "agora se isso vai trazer alguma coisa de útil para o Fado eu sinceramente não sei".

Daniel Gouveia considera que "poderá motivar mais interesse do ponto de vista patrimonial" mas considera que em termos de investigação, esta tem-se mostrado "repetitiva, sem coisas novas".

"Em termos de investigação está tudo feito, mas é em termos académicos, o que tenho visto mais recentemente é mais um mastigar do que foi investigado e escrito", referiu.

Vítor Duarte Marceneiro, filho, neto e sobrinho de fadistas, canta o Fado e tem vários discos editados, além do blogue que sonha colocar Lisboa no Livro dos Recordes como a cidade mais cantada no mundo, é autor de "Recordar Alfredo Marceneiro" (1995), "Marceneiro -- Os Fados que ele cantou" (2001) e, "Recordar Hermínia Silva" (2004).

Ex-correspondente das televisões CBS e ARD, em 1979 produziu o documentário "Marceneiro -- Três Gerações de Fado", o último registo em filme de Alfredo Marceneiro (1891-1982).

Daniel Gouveia é membro da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado. Autor de letras e músicas de fados de Lisboa, editou o livro "Arcanjos e Bons Demónios", que integra relatos verídicos do que presenciou e protagonizou durante o serviço militar em Angola.

A candidatura do Fado a património imaterial foi apresentada publicamente pela Câmara Municipal de Lisboa através da EGEAC/Museu do Fado em junho de 2010, e será votada no 6.º Comité Inter-Governamental da Convenção da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), que se reúne de 22 a 29 deste mês em Bali.

A candidatura portuguesa está entre as sete recomendadas pelo comité de peritos da UNESCO, ao lado do conhecimento dos jaguares, pelos xamãs da tribo ameríndia colombiana Yurupari, da música Mariachi, do México, das danças Nijemo Kolo da Dalmácia (Croácia), da música e dança tsiattista do Chipre, e a cavalgada de reis da Morávia (República Checa).
Lusa


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Comentários
#1 jonas 2011-11-18 10:52 Eu até que os compreendo… será muito badalado duarante uns dias e depois volta tudo ao mesmo! Vejam o caso do Porto, é património da humanidade, será que alguém sabe? O reconhecimento pela Unesco que vantagens trouxe ao Porto? Citação
#2 E. Jorge 2011-11-23 18:34 Lembram-se que a "entrada" na Comunidade Europeia nos tirou a pesca, a agricultura, o bagaço e as iscas (sem serem vistoriadas pela ASAE).
E também nos tirou o azeite "no galheteiro" sobre a mesa, entre outras coisas simples, MAS MUITO NOSSAS?
Será que aquele fado em que a fadista diz: … "ele pode bater, porque bate naquilo que é dele" não virá, com entrada do fado na lista do ?património mundial? a sofrer das mesmas restrições, e esse fado passe a ser proibido por "retratar violência doméstica"?
E o ?meu cavalo alazão? e o ?meu galgo de corrida? terão que ser vacinados em estabelecimento credenciado, antes de serem cantados?
Cá estaremos para ver se "isto" não virá a beneficiar uns poucos em prejuízo de muitos.
Só lamento a ausência do Zé Manuel Osório, neste momento para o qual tanto trabalhou.
Citação
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