Mafalda Arnauth - Esta voz que me atravessa
Neste trabalho, Mafalda Arnauth assinala uma considerável evolução se tivermos em conta o seu anterior trabalho, de título homónimo datado de 1999 , sobretudo ao nível das interpretações – arrisco até dizer que foi no seu segundo disco que Mafalda mostrou o melhor de si, quer na selecção dos temas, quer na forma como os interpreta e os transmite.
A cuidada e primorosa selecção de textos, que no seu conjunto exprimem toda uma diversidade de estados de alma, o talento manifestado no exercício de os revestir de novas composições ou fazê-los revisitar alguns dos mais mediáticos fados tradicionais, combinando com a genialidade e excelência dos músicos que trabalharam na construção dos temas, quer na composição e acompanhamento, quer na produção – espreite-se a ficha técnica, onde assinam Amélia Muge, José Martins e Hélder Moutinho (produtores, e também autores de alguns temas), Ricardo Rocha (guitarra portuguesa), José Elmiro Nunes (viola), e Paulo Paz (contrabaixo) – fazem deste trabalho um exemplo maior de sensibilidade, elegância e bom gosto.
Doze são os temas que deambulam entre registos ora mais intimistas, ora mais joviais, mas sempre cheios de conteúdo verbal, musical e emotivo. Impossível será, ficar indiferente a temas como A casa e o mundo, Ai do vento (aqui pela primeira vez), não trautear a Lusitana!, esquecer os versos finais de Esta voz…, não nos surpreendermos com o excelente trabalho de reformulação sonora presente em Fado Menor do Porto.
"Esta voz que me atravessa" é um disco que documenta inegavelmente o período em que foi produzido – um perído de grande efervescência fadista, de grande inovação, de impulsão de novos valores, de arrojados experimentalismos.
Editado em 2001 pela
EMI, simultaneamente em Portugal e na Holanda, "Esta voz que me
atravessa" constitui, na minha opinião, o melhor disco de Mafalda
Arnauth até à actualidade.