Com Joana Amendoeira o fado faz-se família
Concertos - Março 18, 2012


Centro Cultural Internacional de Avilés - 17.03.2012
Estavamos em 1988, em sua casa de Santarém, a pequena capital das castiças terras ribatejanas, vizinhas de Lisboa. Também no livro "Fados nossos", Alexandra Carita e Jorge Simão escrevem sobre Joana: "Espirito aberto, alma elevada que continua sonhando ingenuamente. Sonha demasiado. Todos os dias. E dos seus sonhos advém a vontade de conquistar o mundo com a sua voz. Sem dividendos. - Sonho ser a maior fadista portuguesa. Fala com uma pureza terna que leva estampada nos olhos. Esse sonho seu, não se pode confundir com ambição."
Joana transmite essa pureza terna em forma de simpatia, carinho e afecto, sobretudo quando canta. O seu fado é um fado familiar. Parece apresentar-se nos espectáculos com o xaile, as pulseiras, os colares e os brincos da mãe e da avó; a guitarra toca-a o seu irmão e por perto poderão estar o outro irmão e sua cunhada, Célia Leiria, outra grande fadista, e se tiveres oportunidade de te juntares ao grupo, de imediato te sentes em família. Nos fados de Joana parece existir a vida de várias gerações de uma casa que "é com certeza uma casa portuguesa".
Esse fado doméstico é grande, enorme, transporta em harmonia todas as emoções do coração de cada um e de todos. Nele nos reconhecemos. E quando se ouve no grande auditório de Avilés, faz-se internacional. Tardou em envolver-se, pois os auditórios são aversos ao fado, que é intimista, como acontece nas casa de fado, ou nos pequenos teatros… os grandes espaços não são acolhedores. Mas Joana, os músicos, a técnica de som Maria João Castanheira e de iluminação, Pedro Leston, conseguiram arrancar a emoção colectiva entre aplausos e vivas, pois o fado "arrepia" dizem em português, "dá calafrios", "estremece", porque carrega toda a alegria e a tristeza, a dor e o alivio, a nostalgia e a esperança que existem na saudade.
O fado aconteceu, de forma muito especial, com Joana, mas também com a guitarra portuguesa de Pedro Amendoeira, a viola de Angelo Freire e o contrabaixo de Paulo Paz, nas variações do fado Pechincha, entre os intervalos de voz que lhes concedeu Joana Amendoeira. Antes tinha entoado fados castiços como o "Meia-noite", o "Cravo" ou o "Corrido", um par de baladas, vários fados-canção como o "Gaivota", um tradicional como o "Fadinho da tia Maria Benta" e algumas marchas de Lisboa numa noite memorável. A ver vamos se se repete.Ángel García Prieto