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Mariza no Coliseu do Porto

Concertos - Abril 23, 2012
Depois de ser elevado a Património da Humanidade só faltava ao fado voltar à voz de Mariza para o vermos brilhar de orgulho. A fadista esgotou a sala da Invicta na festa que celebrou os seus dez anos de carreira.

Coliseu - Porto - 20.04.12

A noite começou ao som de “Smile”, de Nat King Cole, e as imagens dos bastidores de um percurso que passou um pouco por todo o mundo. Os sorrisos de uma artista com cinco álbuns editados e mais de 30 discos de platina.

Mariza fez da plateia o seu “palco do mundo” e, depois das batidas do coração, a guitarra portuguesa de José Manuel Neto em contraluz, e a voz que se ouviu veio do público. Foco em Mariza, ali estava ela, mesmo no centro de um Coliseu cheio, a entoar “Promete, Jura”.

Esta foi a primeira de tantas canções do seu último álbum “Fado Tradicional”, de 2010. Recebeu o primeiro grande aplauso da noite. O primeiro de muitos, os quais dificilmente conseguiremos enumerar.

“Que saudades que eu tinha de cantar para vós. Não tenho palavras para este ano de carinhos. Vocês estiveram sempre próximos”, foi a forma afetuosa como a fadista se dirigiu ao público. Passadeira estendida para “Fado Vianinha”, a música que poderá dar coro a dez anos de carreira: “Devagar se vai ao longe / E eu vou devagarinho / Vamos ver se me não perco / Nos atalhos do caminho”.

Mas Mariza já encontrou o Norte. E o Norte já não deixa que Mariza se perca e estava ansioso por isto: o fado canção, as palmas que fazem o ritmo, o pé a bater e a cabeça a baloiçar. Que é isso de fado triste quando este país tem Mariza?

Aos primeiros acordes de “Barco Negro”, eternizado por Amália, o Coliseu não conteve o aplauso. É que este fado é as nossas raízes, independentemente da roupa que Mariza lhe vestir. Cantamos, pois claro, deixando a fadista de braços abertos. Afinal, somos fado ou não? As luzes psicadélicas e a bateria deixaram o Coliseu em apogeu. Ninguém se conteve. Mariza aplaudiu. E nós repetimos, sem afinações de maior.

Do álbum Transparente, o Porto ouviu “Meu Fado Meu” e agradeceu entusiasticamente o momento instrumental que deu descanso à voz da fadista. José Marino de Freitas no baixo, Diogo Clemente na guitarra acústica e José Manuel Neto na guitarra portuguesa mostraram de que matéria se faz a música que embala o fado.

O regresso de Mariza ao palco fez-se com uma canção memorável. O público reagiu de imediato e a fadista não quis que se contivessem: “podem começar a cantar, já percebi que sabem o que é”. É “Chuva”. Canta, Mariza, esta é toda tua e dessa voz tremenda que inundou as paredes do Coliseu do Porto.

Depois de “Cavaleiro Monge”, eis que volta o último álbum. Mariza arrisca a dança em “Dona Rosa” e traz ao Porto o que lhe pertence com “Meus olhos que por alguém" (Fado Menor do Porto”, um poema de António Botto).

A verdadeira festa havia de se fazer com o sucesso de “Rosa Branca”, ao sabor do baile popular com palmas coordenadas. “Estão prontos para cantar?”. À primeira, o Porto respondeu tímido, mas não deixou escapar a segunda investida. Mariza trouxe ao de cima o seu sentido de humor e habilidade na arte de orquestrar letras mal percebidas e muita vontade de cantar. Perdoe-se a falta de jeito que a alegria não faltou.

Ainda houve tempo para deixar brilhar Vicky Marques, na bateria e um “foi tão bom ter estado entre vós, muito obrigada por tudo” sucedeu “Boa noite, Solidão”, de Fernando Maurício, numa estrondosa interpretação que culminou num Coliseu de pé a aplaudir Mariza.

Mas havia mais. A fadista desceu do palco e veio, novamente, para à beira do público. Desta vez sem microfone. Que diferença fez? Nenhuma. Aquela voz chegou a todos os recantos da sala e protagonizou um momento muito mais intimista ao som de “Lavava no rio, lavava”. Era o Coliseu vestido de autêntica casa de fados.

A terminar, o momento pelo qual todos esperavam. “Gente da minha terra” embriaga-nos as palavras e esmaga qualquer descrição. Mariza percorre o corredor do Coliseu, emociona-se, ao público nem se fala, “eu preciso de ver as luzes destas gentes maravilhosas”, parece olhar para cada um, senti-lo e eles a ela, à canção. Um “és linda” desconcertante e o agradecimento emocionado no epicentro de uma sala em aplauso monumental.

“Não se sentem”, desafiou, “podem saltar, bater palmas. Só não podem arrancar cabelos ao vizinho do lado. Eu quero ver-vos dançar”. “Rosa Branca”, de novo, daria lugar à festa brava que fechou o concerto de Mariza no Porto, confirmando que este palco do mundo é uma festa de rosa ao peito e emoções feitas de gente da terra onde o fado é Património e orgulho.Cláudia Brandão


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Comentários
#1 ZezinhoEspanhol 2012-04-23 23:00 Wonderful report! It just rea. my heart on what I felt on Saturday 20th, grande Mariza, grande fado. Citação
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