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A Casa da Mariquinhas

A Casa de Mariquinhas é um celebre fado cuja letra é da autoria de João Silva Tavares, interpretado magistralmente por Alfredo Marceneiro.

Encontrar a data da criação deste fado é muito difícil : alguns dizem anos 30-40, outros anos cinquenta. Uma certeza : foi gravado só em 1961. Gravar não era a primeira preocupação dos fadistas...

Este fado que se inspira na vida nocturna de Lisboa, cria uma personagem de ficção - a Mariquinhas - e uma casa que parece tão realista que o próprio Alfredo Marceneiro com as ferramentas do seu oficio, construiu um modelo reduzido da casa da Mariquinhas à escala de 1/10 colocando no seu interior tudo o que o poeta descreve no poema, as janelas com tabuinhas, no vão de cada janela sobre coluna uma jarra, tem na sala uma guitarra, o cofre forte, o candeeiro a petróleo, os quadros de gosto magano,  todos os móveis são feitos em entalhe sem um único prego. A casa pode ver-se no Museu do Fado no bairro de Alfama.

O texto de João Silva Tavares foi uma fonte de inspiração para outros autores e fadistas : cada um imaginou uma continuação comovedora, triste e cheia de nostalgia : a casa está fechada e/ou leiloada; que aconteceu "à formosa Mariquinhas" ?.. Não estamos longe dum novo mito. Assim nasceram, entre outras canções:

- Vou dar de beber à dor (Alberto Janes)
- O leilão da casa da Mariquinhas ( Linhares Barbosa/Alfredo Marceneiro)
- Depois do leilão (Linhares Barbosa/Alfredo Marceneiro)
- Vou dar de beber à alegria (Alberto Janes/Manuel Paião)
- O testamento da Mariquinhas ( Lopes Victor/Alfredo Marceneiro)
- Já sabem da Mariquinhas (Carlos Conde/Alfredo Marceneiro)

Quanto à casa da Mariquinhas era uma casa de passe onde moravam prostitutas; em Portugal essas casas foram toleradas até o ano 1962, mas deviam ser discretas. Ficavam nas ruas um pouco afastadas das grandes ruas : "é numa rua bizarra". As prostitutas não deviam convidar ou aliciar os transeuntes pelas janelas: assim explicam-se as "janelas com tabuinhas".

É claro, esta casa de passe é um lugar de prazer sexual mas também, à noite, um lugar animado onde não se toca piano - instrumento das raparigas da burguesia - senão "onde como no campo a cigarra / Se canta fado à guitarra" instrumento dos bairros populares de Lisboa. A decoração é estranha, de quase mau gosto com "quadros de gosto magano"... Apesar do cofre forte tudo é bastante pobre, parco e "no fundo não vale nada ": "o gás acabou e ilumina-se a petróleo". A casa desperta a curiosidade bastante malevolente das vizinhas... A letra do leilão - outro fado - diz " a vizinhança zangou-se / fez um abaixo-assinado, /diziam que havia fado ali até madrugada"...

Uma casa de passe decerto, mas uma casa de janelas que se revela a nós cativante pela magia da letra, da melodia e sobretudo pela voz de Alfredo Marceneiro - Linhares Barbosa escrevia em 1937 :

Tem na garganta um não sei quê de estranho,
Que perturba e nos faz cismar
É dor? É medo? São visões d'antanho?
Amor? Ciúme? É choro? É gargalhar?

É voz do fado - dizem - e eu convenho
Que ande na sua voz a voz do mar,
Onde Portugal se fez tamanho
E aprendeu a cantar e a soluçar.

O Marceneiro tem aquela atroz
Sonância d'onda infrene que em rochedo
Fareja e morde, impiedosa e algoz.
É voz roufenha que nos mete medo,

Mas que atrai, que seduz... É bem a voz
Do fado rigoroso, a voz do Alfredo.


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