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Rão Kyao

Musicians - Agosto 29, 2012
Ao longo de uma carreira que já dobrou a vintena de anos, o lisboeta Rão Kyao tem-se distinguido pela sua persistente vontade em redescobrir o Oriente.

Fazendo uso da flauta de bambu e do saxofone, ele foi encontrando inspiração na música indiana, árabe, africana e chinesa, restabelecendo assim o elo perdido entre a tradição musical portuguesa e o Oriente. Os 20 álbuns que editou até hoje indiciam, de uma forma muito clara, a intenção expressa de, a cada passo, redescobrir as raízes da música tradicional portuguesa, não temendo, antes pelo contrário, o confronto com as suas fontes primordiais: a música indiana e a música árabe. São esses os fundamentos dos primeiros passos da sua carreira, quando edita os álbuns «Malpertuis» (1976), «Bambu» (1977), «Goa» (1979), «Ritual» (1982) e «Macau O Amanhecer» (1984).

Álbuns que impõem Rão Kyao como a mais importante figura do meio jazzístico português, ao mesmo tempo que o músico não deixa de assumir o seu fascínio pela música oriental, capaz de o levar a fixar-se em Bombaim durante alguns meses. Rão Kyao só veio a conhecer o êxito comercial, porém, durante a década de 80, quando os seus discos conquistavam, invariavelmente, galardões de ouro e platina. Primeiro com «Fado Bailado» (1983), onde juntamente com o mestre da guitarra portuguesa, António Chaínho, revia alguns dos mais consagrados temas da canção urbana de Lisboa à luz do saxofone, propondo pela primeira vez uma nova dimensão para o fado. Depois com «Estrada da Luz» (1984) e «Oásis» (1986), álbuns onde voltou à flauta de bambu para mostrar as afinidades entre a música tradicional portuguesa e a música indiana. O repetir do percurso dos navegadores dos Descobrimentos, levou-o até ao Brasil, onde gravou o álbum «Danças de Rua» (1987), fortemente inspirado na riqueza rítmica da música nordestina.

O folclore português seria explicitamente abordado em «Viagens na Minha Terra» (1989), regressando ao fado em «Viva o Fado» (1996). Ainda antes, Rão Kyao tinha cruzando a música portuguesa com o flamenco dos espanhóis Ketama, em «Delírios Ibéricos» (1992). Nos anos noventa, editou também os álbuns «Águas Livres» (1994) e «Navegantes» (1998), marcados pela world music e a new age, num rasgo absolutamente pioneiro em Portugal. A ligação da música portuguesa ao Oriente e, mais especificamente, a Macau, tinha já sido abordada por Rão Kyao no álbum «Macau ao Amanhecer» (1984), de acordo com o mote proposto de relatar a presença portuguesa naquele território em termos musicais.

Macau voltou a ser o pretexto para um novo álbum de Rão Kyao, «Junção» (1999), desta vez acompanhado pela Orquestra Chinesa de Macau. É em «Junção» que se encontra o tema da autoria de Rão Kyao, interpretado durante a cerimónia que celebrou a passagem do território de Macau para a República Popular da China. «Fado Virado a Nascente» (2001) é, como o título deixa antever, uma nova abordagem do fado por parte de Rão Kyao, agora acompanhado pela fadista Deolinda Bernardo e pela cantora dos Madredeus, Teresa Salgueiro, no tema «Deus Também Gosta de Fado». A ligação à música árabe é assumida de forma mais que explícita, socorrendo-se Rão Kyao de alguns músicos marroquinos, como o violinista Gazi e o percussionista Barmaki, que sublinham as raízes orientais da guitarra portuguesa (a cargo de Fernando Silva e Carlos Gonçalves) e os arranjos do teclista Renato Júnior e do viola Carlos Macieira.

Estas são canções em que, ao trinar da guitarra portuguesa se junta uma riqueza rítmica «virada a nascente», suporte para uma melopeia ora sublinhada pela flauta de Rão Kyao ora pela voz das cantoras. Indisfarçável, a presença de Pedro Ayres Magalhães, também dos Madredeus, no desenho do conceito do álbum, na escolha dos músicos e ainda numa das letras que escreveu. O mesmo acontece com a produção de Mário Barreiros, responsável pela gravação de alguns dos mais bem sucedidos discos de música portuguesa. “Em busca de antepassados da canção da nossa gente”, como diz a letra do tema «Fado Nascente», Rão Kyao levou mais longe, outra vez, a sua missão de reunir Ocidente e Oriente, procurando um novo espaço para a música portuguesa. A 14 de Junho 2004, foi editado um novo trabalho de originais de Rão Kyao,”Porto Alto”que o músico descreve da seguinte forma: «O percurso de um sonho através da música de Portugal, País do Pão, do Azeite e do Vinho».

Este trabalho produzido por Luis Pedro Fonseca, conta com a participação do Guitarrista Virtuoso do “Novo Flamenco, Gerardo Núñez, em 3 temas, o Guitarrista Cabo-verdiano Tito Paris e Carlos Gonçalves na guitarra portuguesa. O concerto de estreia, baseado neste disco, teve a sua estreia mundial no Festival Rock in Rio Lisboa -dia 28 de Maio 2004. Grava em 2006 com a orquestra clássica do centro (Coimbra) um álbum chamado “Mondego” que consiste numa série de temas clássicos de grandes autores portugueses (José Afonso, José Niza entre outros), para além de originais e alguns temas inesquecíveis da nossa música tradicional; principalmente da região daquela cidade.

Este CD teve uma distribuição restrita ligada a público chegado a essa belíssima orquestra do centro. No ano de 2008 edita “Porto Interior” um disco de carácter intimista em conjunto com uma instrumentista chinesa, Yanan, que toca dois instrumentos clássicos chineses, a Pipa e o Gu - Zeng. É um CD editado em conjunto com a fundação Jorge Álvares e retrata a integração exemplar dos povos português e chinês em Macau e pretende fortalecer, pelos seus meios a amizade entre estes dois países.

Em 2009, 28 de Novembro, publica o duplo CD ( Em cantado) em que no lado A aparece a sua flauta com um grupo de excelentes fadistas ( Ana Sofia Varela Camané, Carminho, Manuela Cavaco, Ricardo Ribeiro e Tânia Oleiro ) que interpretam temas seus ligados ao fado. Este género foi intensamente praticado por Rão Kiao em variadíssimas actuações ao vivo e em CD..S que começaram no célebre Fado Bailado. No lado B podemos ouvir os seus temas cantados pelas flautas de bambu o piano acústico de Renato Júnior e as percussões de Ruca Rebordão numa versão lírica e intimista tão querida a Rão Kyao. O músico lançou neste mês de Dezembro um disco de música litúrgica, de autores portugueses intitulado Sopro de Vida - ao ritmo da liturgia. “Este CD é a concretização de um sonho: “cantar”, numa gravação com a flauta, uma série de cânticos religiosos de grande profundidade melódica.


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