Fado de Lisboa - Vários
Discos - Novembro 23, 2012

É precisamente este imaginário que o disco Fado de Lisboa pretende recriar, tendo a possibilidade de ouvir 25 fados por estas e outras grandes vozes que cantaram esta cidade. No CD Fado de Lisboa estes grandes intérpretes cantam-nos algumas histórias de vida que fazem parte da memória coletiva do povo português. Estas gerações marcaram definitivamente a época mais brilhante do fado nas décadas de 1950 e 1960, contribuindo assim para um grande enriquecimento da história desta canção. Lisboa é a cidade mais cantada do mundo e a cidade berço do fado. Muitos destes fados são autênticos retratos destaLisboa antiga.Pelo seu cariz histórico, humano, cultural e universal, o fado de Lisboa foi promulgado pela UNESCO - Património Imaterial da Humanidade em Novembro de 2011. Porém, o fado é desde sempre património de quem o canta, de quem o ouve e principalmente de quem o sente. O fado é acima de tudo sentimento, uma libertação de alma que não se explica.
Um pouco de história: FADO DE LISBOA
O fado nasceu em Lisboa no início do século XIX, despontando como uma música portuária no caldeirão cultural que era a capital portuguesa na época. Maria Severa Onofriana (Lisboa, 1820 - Lisboa, 1846), ou simplesmente Severa, foi a primeira figura do fado a tornar-se conhecida. Severa personifica bem os primórdios do fado, uma mulher bonita, boémia e prostitua de profissão que tocava guitarra e cantava fado pelas ruas, tabernas do bairro da Mouraria e outros locais.
Foi no seio popular dos bairros mais antigos da cidade que o fado se desenvolveu e criou maturidade até se expandir por todo o território nacional e por todas as classes socais. Na segunda metade do século XIX tornou-se a maior canção nacional, foi neste período que a guitarra portuguesa se juntou definitivamente ao fado. No último quartel do século XIX o fado é levado para os salões nobres onde evolui poética e artisticamente. Nos alvores do século XX aparecem as primeiras publicações escritas sobre fado. No declínio da monarquia o fado é usado pelos republicanos na divulgação de mensagens políticas. Apesar da sua ascensão, o fado chega a ser proibido nos anos 20 do século XX pela ditadura militar que pôs termo à primeira república de 1910. Em 1925 com as primeiras emissões de rádio o fado ganha grande popularidade, ano em que surgem também as primeiras gravações em discos de 78 RPM.
Em 1927 surge a regulamentação que obriga os artistas a tirarem carteira profissional para poderem atuar publicamente em espaços igualmente autorizados. Com a profissionalização surgem os grupos de fado nos quais se integravam grandes nomes, é atribuído o estatuto de fadista aos cantadores e cantadeiras e com os fadistas surgem as casas de fado. Os grupos de fado levaram esta arte a todo o território nacional e começaram sistematicamente a fazer tours no estrangeiro, começando assim a projeção do fado no mundo. Em 1931 o fado marca a sua estreia no primeiro filme sonoro português "A Severa" de Leitão de Barros, desde esta data o fado passa a ter presença assídua no cinema.
Nas décadas de 1930 e 1940 o fado continua em grande expansão, ganhando maior espaço na literatura, teatro, cinema, rádio e indústria fonográfica. Nestas décadas construiu-se o imaginário fadista que se vem a solidificar nas décadas de 1950 e 1960 atingindo o seu auge. Em 1957 a RTP inicia as suas transmissões incluindo regularmente o fado na sua programação, a TV aumentou substancialmente a visibilidade pública dos fadistas, atribuindo a muitos a dimensão de estrelato. Estes foram os anos de maior fulgor artístico que marcaram a definitiva internacionalização do fado com Amália Rodrigues na primeira figura que brilhava numa constelação de outras grandes estrelas.