Mª Teresa de Noronha - O último programa na emissora
Records - Janeiro 19, 2013
Maria Teresa de Noronha começou a cantar em finais da década de 1930 e rapidamente chamou a atenção pelo seu
timbre claro e interpretação sem mácula.
Fez uma carreira de grande sucesso,
aplaudida dentro e fora de portas,
quando ainda não existia o circuito da
"music world".
O editor discográfico Manuel Simões
(1917-2008), homem de visão larga e
empreendedora, era um dos muitos seus
admiradores que com tristeza ouviu
anunciar em 1962, o fim do programa
semanal que a fadista há 23 anos mantinha na então Emissora Nacional.
O guitarrista Raul Nery que sempre a
acompanhou, contou numa entrevista
que cantava com muita alma, afirmou
"preferir sair por vontade própria que ser
mandada embora". O programa constava
na grelha da emissora desde julho de
1939. Anunciada aos microfones pelo
locutor D. João da Câmara (1905-1978),
Maria Teresa de Noronha "cantou sempre
com enorme sentimento, dignidade e
sentido de rigor", como dizia Manuel
Simões. O editor discográfico reconhecia
e embevecia-se pela "voz clara, certa nos
tempos melódicos, com umas pausas extraordinárias que nos deixavam suspensos na comoção, a compreensão de todas
as palavras sem falhar uma sílaba".
Vicente da Câmara, seu sobrinho, referiu
"o meticuloso cuidado que colocava na
preparação dos programas, tanto radiofónicos, como na televisão".
A fadista decidiu abandonar "no auge das suas capacidades", considera Vicente da Câmara e atesta-o a apresentação de D. João da Câmara que faz eco da mágoa sentida por si e por muitos pela decisão em terminar o programa. A Fundação Manuel Simões reedita o CD que surgiu pela primeira vez no grama gravado há 50 anos, no dia 20 de dezembro de 1962. Um CD tanto mais fundamental pois, segundo o músico D. Segismundo de Bragança - que facilitou a fita magnética a Manuel Simões - a bobina original perdeu-se. No programa a fadista esmerou-se na escolha do repertório e abriu a atuaçâo com um fado que é uma resposta pronta às ideias defendidas aos mesmos micro- fones da EN por Luís Moita que definia o fado como uma "canção decadente da raça", "dormente", de uma "degradante melancolia". Palestras que foram posteriormente publicadas no livro "Fado canção de vencidos".
M.a Teresa de Noronha no "Fado da Verdade" argumenta que "é heresia e é pecado dizer tal coisa do fado" e "quem do fado diz mal não nasceu em Portugal ou sem querer falta à verdade". Uma clara profissão de fé da fadista que na hora do adeus terá feito questão em acentuar o seu amor a esta "canção terna" e declara: que "abençoado país que tem tal preciosidade". M.a Teresa de Noronha escolheu ainda o universo masculino, nomeadamente aos universitários, que com alguma ousadia decidiu cantar; terminando com o emblemático Anadia, que exemplifica o seu refinado gosto poético. A fadista "era única na forma de criar um pathos, uma tensão dramática que criava nas suas interpretações quandosuspendia a melodia e surgia só a sua voz", salientou numa entrevista o musicólogo Rui Vieira Nery. Para Vieira Nery, M.a Teresa de Noronha é "o exemplo de grande intérprete, que conviveu sempre com a tradição fadista, tendo recuperado algum do repertório mais antigo do fado; senhora de uma qualidade vocal e domínio técnico únicos que lhe permitiam uma ornamentação das melodias que interpretava". O poeta D. António Bragança, autor do "Fado da Verdade", considerava-a "uma cotovia".
M.a Teresa de Noronha estudou canto lírico e integrou o coro do Teatro de São Carlos. Em 1938 apresentou-se a cantar fado aos microfones da EN e em 1939 gravou o primeiro disco. Na década de 1940 fez uma digressão por Esapanha seguindo-se o Brasil, onde obteve um estrondoso êxito". Na década de 1960 voltou ao Brasil, apresentou-se num programa da BBC, e cantou para as famílias reais de Inglaterra e do Mónaco. No Principado dos Grimaldi atuou com grande sucesso no Sporting Club de Monte Carlo, tendo partihado o palco com o Duo Ouro Negro. Nesta época começa a orientar a carreira essencialmente para as gravações e a reduzir os espetáculos. Desde os alvores da televisão em Portugal participou em vários programas, tendo sido a convidada especial no Festival RTP da Canção 1969, o primeiro transmitido em direto a partir de uma sala de espetáculos, o Teatro Municipal S. Luiz, em Lisboa. M.a Teresa da Noronha protagonizou uma carreira ímpar, evidenciando grande cuidado na escolha das letras, mostrando-se sempre contrária aos fados-canções e às letras correntes, procurando um padrão mais elevado. É uma das grandes estilistas do fado, isto é, revela de forma notável a sua interpretação melódica.
Raul Nery sublinhou o "estilo próprio da fadista, e explicou: "Na música fado Anadia, ela sobrepunha a voz cantando em fado menor". Maria Teresa de Noronha nasceu em Lisboa a 07 de setembro de 1908, 1947 casou-se com o guitarrista José António Guimarães Serôdio, conde dev
Sabrosa. Em 1972 gravou o ultimo álbum, "Fado Antigo", para a etiqueta Valentim de Carvalho. A última vez que cantou, segundo informação do investigador Daniel Gouveia, foi em 1967 na
casa de fados Picadeiro, em Cascais.Nuno Lopes
A fadista decidiu abandonar "no auge das suas capacidades", considera Vicente da Câmara e atesta-o a apresentação de D. João da Câmara que faz eco da mágoa sentida por si e por muitos pela decisão em terminar o programa. A Fundação Manuel Simões reedita o CD que surgiu pela primeira vez no grama gravado há 50 anos, no dia 20 de dezembro de 1962. Um CD tanto mais fundamental pois, segundo o músico D. Segismundo de Bragança - que facilitou a fita magnética a Manuel Simões - a bobina original perdeu-se. No programa a fadista esmerou-se na escolha do repertório e abriu a atuaçâo com um fado que é uma resposta pronta às ideias defendidas aos mesmos micro- fones da EN por Luís Moita que definia o fado como uma "canção decadente da raça", "dormente", de uma "degradante melancolia". Palestras que foram posteriormente publicadas no livro "Fado canção de vencidos".
M.a Teresa de Noronha no "Fado da Verdade" argumenta que "é heresia e é pecado dizer tal coisa do fado" e "quem do fado diz mal não nasceu em Portugal ou sem querer falta à verdade". Uma clara profissão de fé da fadista que na hora do adeus terá feito questão em acentuar o seu amor a esta "canção terna" e declara: que "abençoado país que tem tal preciosidade". M.a Teresa de Noronha escolheu ainda o universo masculino, nomeadamente aos universitários, que com alguma ousadia decidiu cantar; terminando com o emblemático Anadia, que exemplifica o seu refinado gosto poético. A fadista "era única na forma de criar um pathos, uma tensão dramática que criava nas suas interpretações quandosuspendia a melodia e surgia só a sua voz", salientou numa entrevista o musicólogo Rui Vieira Nery. Para Vieira Nery, M.a Teresa de Noronha é "o exemplo de grande intérprete, que conviveu sempre com a tradição fadista, tendo recuperado algum do repertório mais antigo do fado; senhora de uma qualidade vocal e domínio técnico únicos que lhe permitiam uma ornamentação das melodias que interpretava". O poeta D. António Bragança, autor do "Fado da Verdade", considerava-a "uma cotovia".
M.a Teresa de Noronha estudou canto lírico e integrou o coro do Teatro de São Carlos. Em 1938 apresentou-se a cantar fado aos microfones da EN e em 1939 gravou o primeiro disco. Na década de 1940 fez uma digressão por Esapanha seguindo-se o Brasil, onde obteve um estrondoso êxito". Na década de 1960 voltou ao Brasil, apresentou-se num programa da BBC, e cantou para as famílias reais de Inglaterra e do Mónaco. No Principado dos Grimaldi atuou com grande sucesso no Sporting Club de Monte Carlo, tendo partihado o palco com o Duo Ouro Negro. Nesta época começa a orientar a carreira essencialmente para as gravações e a reduzir os espetáculos. Desde os alvores da televisão em Portugal participou em vários programas, tendo sido a convidada especial no Festival RTP da Canção 1969, o primeiro transmitido em direto a partir de uma sala de espetáculos, o Teatro Municipal S. Luiz, em Lisboa. M.a Teresa da Noronha protagonizou uma carreira ímpar, evidenciando grande cuidado na escolha das letras, mostrando-se sempre contrária aos fados-canções e às letras correntes, procurando um padrão mais elevado. É uma das grandes estilistas do fado, isto é, revela de forma notável a sua interpretação melódica.
Raul Nery sublinhou o "estilo próprio da fadista, e explicou: "Na música fado Anadia, ela sobrepunha a voz cantando em fado menor". Maria Teresa de Noronha nasceu em Lisboa a 07 de setembro de 1908, 1947 casou-se com o guitarrista José António Guimarães Serôdio, conde dev
Sabrosa. Em 1972 gravou o ultimo álbum, "Fado Antigo", para a etiqueta Valentim de Carvalho. A última vez que cantou, segundo informação do investigador Daniel Gouveia, foi em 1967 na
casa de fados Picadeiro, em Cascais.Nuno Lopes
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