Luísa Amaro
Músicos - Agosto 18, 2013
No timbre da guitarra portuguesa encarnou-se um estranho destino:
desaparecida do resto da Europa, sobreviveu com orgulhosa tenacidade em
terra lusitana até identificar as cordas mais íntimas e as vibrações
mais subtis.
A sua voz – porque de uma voz se trata – toca o coração desde a primeira nota; as suas ressonâncias colocam em movimento sentimentos que pareciam esquecidos; nela afloram emoções que as palavras não conseguem descrever. Há qualquer coisa de antigo e de nobre no timbre deste instrumento, que tem aparentemente origens humildes e que encontrou no fado o seu habitat ideal.
Mas a guitarra portuguesa, se é a essência do fado, vive para além dele. Demonstraram-no músicos que souberam exaltar o seu extraordinário potencial expressivo, revelando um universo sonoro original e fascinante. Luísa Amaro está entre eles. Crescida artisticamente com Carlos Paredes, assimilou um ilimitado interesse pelo som como exercício criativo de exploração do mundo. Com grande sensibilidade e extrema delicadeza construiu um diálogo íntimo com as culturas musicais do Próximo Oriente. Percebeu a respiração das suas dimensões universais, desafiando-lhe a matéria sonora e interpretando-lhe a sua essência através de um trabalho de tradução elaborado sobre uma trama tímbrica extremamente sóbria.
A personalidade única da guitarra portuguesa é colocada em evidência pela elegante e discreta presença do clarinete e da percussão, com a cumplicidade de um segundo instrumento de cordas, o guitolão, que é a sua natural extensão. Este instrumento, construído ex-novo por Gilberto Grácio, é fruto da imaginação de Carlos Paredes, que desejava ampliar o registo da guitarra portuguesa para se aventurar além dos limites objectivos impostos pela sua estrutura.
Esta subtil e constante inquietude, tão intrínseca e requintadamente lusitana, reflecte-se no trabalho de Luísa Amaro através da evocação de um Portugal mourisco, como expressão de uma insinuante nostalgia. Qualquer coisa de longínquo no espaço e no tempo, e ao mesmo tempo tão próximo de se tornar motivo de efabulação sonora. Se a saudade fosse som, teria a voz do seu instrumento. Paolo Scarnecchia
Mas a guitarra portuguesa, se é a essência do fado, vive para além dele. Demonstraram-no músicos que souberam exaltar o seu extraordinário potencial expressivo, revelando um universo sonoro original e fascinante. Luísa Amaro está entre eles. Crescida artisticamente com Carlos Paredes, assimilou um ilimitado interesse pelo som como exercício criativo de exploração do mundo. Com grande sensibilidade e extrema delicadeza construiu um diálogo íntimo com as culturas musicais do Próximo Oriente. Percebeu a respiração das suas dimensões universais, desafiando-lhe a matéria sonora e interpretando-lhe a sua essência através de um trabalho de tradução elaborado sobre uma trama tímbrica extremamente sóbria.
A personalidade única da guitarra portuguesa é colocada em evidência pela elegante e discreta presença do clarinete e da percussão, com a cumplicidade de um segundo instrumento de cordas, o guitolão, que é a sua natural extensão. Este instrumento, construído ex-novo por Gilberto Grácio, é fruto da imaginação de Carlos Paredes, que desejava ampliar o registo da guitarra portuguesa para se aventurar além dos limites objectivos impostos pela sua estrutura.
Esta subtil e constante inquietude, tão intrínseca e requintadamente lusitana, reflecte-se no trabalho de Luísa Amaro através da evocação de um Portugal mourisco, como expressão de uma insinuante nostalgia. Qualquer coisa de longínquo no espaço e no tempo, e ao mesmo tempo tão próximo de se tornar motivo de efabulação sonora. Se a saudade fosse som, teria a voz do seu instrumento. Paolo Scarnecchia
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