Guitarrista António Parreira salvaguardou em partitura 180 fados tradicionais
Arquivo - Março 05, 2014
O guitarrista António Parreira, que toca há mais de 40 anos, transcreveu
180 melodias de fados tradicionais, que habitualmente eram “passadas
'por ouvido', de geração em geração”, fixando as suas partituras, disse o
músico à Lusa.
“O livro dos fados”, como se intitula a obra, guarda agora as partituras
de diferentes melodias fadistas tradicionais, do Fado Acácio ao Fado
Zirita, passando pelos fados Bizarro, Cigano, Fé, Laranjeira e Zé Negro.
Todavia, como exemplifica no livro, “nem tudo se canta numa melodia, e a cada melodia corresponde um tipo de estrofe e a respetiva métrica dos versos".
O Fado Adiça, de Armando Augusto Freire, popularmente designado "Armandinho", é cantável em quadras que tenham uma estrutura métrica de versos em heptassílabo (“setessílabo”, na gíria fadista), o Fado Azenha, de Frederico de Brito, é aplicável a sextilhas, na mesma métrica, o “Marana”, de Armando Machado, para quadras em dodecassílabo, e o “Maria Emília”, de Miguel Ramos, para quintilhas em heptassílabo, entre outros.
As melodias tradicionais fadistas aplicam-se aos três tipos clássicos de estrofes – Quadras, Quintilhas e Sextilhas – e às diferentes métricas de versos – alexandrinos, decassílabo, heptassílabo e dodecassílabo -, no caso do heptassílabo é também considerado o setessílabo, versículo.
A variante versículo, em que um apêndice musical é acrescentado à melodia, pelo intérprete, é contemplado em diferentes fados, nomeadamente no Menor em Versículo, atribuído a Alfredo Marceneiro, sobre o qual Fernando Pinto do Amaral escreveu “Fado da saudade”, criado por Carlos do Carmo, e que arrecadou, em Espanha, um Prémio Goya.
Com a variante de versículo são citados, entre outros, os fados Cruz de Guerra, de Miguel Ramos, para quadras, o “Maria Marques”, de Marceneiro, também para quadras ou, ainda, deste autor, o “Pierrot” para quadras, e o Bailado, para quintilhas.
No Fado Bailado, por exemplo, além da composição que lhe deu nome, cuja letra é de Henrique Rego, é também interpretado, entre outros, “Estranha forma de vida”, de Amália Rodrigues.
Para cada melodia pode-se sempre interpretar novas letras, desde que respeitem a respetiva estrutura estrófica e métrica, havendo ainda os casos, não contemplados neste livro, de poemas cantados no fado com música própria, muito habitualmente os sonetos - cite-se “Caravelas”, de Florbela Espanca e música de Tiago Machado, uma criação de Mariza.
“Além destes padrões há depois o da sensibilidade, o tom da melodia, isto é, escolher-se de acordo com o teor da letra - uma letra triste requer um tipo de cadência menor, diferente de uma letra mais alegre”, explicou.
Segundo o guitarrista, “este livro vai ser um instrumento de consulta, nomeadamente pelos mais novos, e, por outro lado, fixou-se em escrita de música os fados que, até agora, salvo raras exceções, estavam apenas na memória do meio fadista”, disse Parreira.
Professor de guitarra portuguesa no Museu do Fado, em Lisboa, António Parreira afirmou à Lusa que “há um rejuvenescimento de instrumentistas, interessados na prática fadista”.
Os três fados apontados como basilares e cuja autoria é anónima – Menor, Corrido e Mouraria – são também fixados pelo guitarrista.
Pai de dois guitarristas, Paulo e Ricardo Parreira, António Parreira considera que, “fixadas as melodias tradicionais, há toda uma margem à criatividade”, e defendeu que “este não é universo fechado”.
Prova disso mesmo é que, nestes 180 fados tradicionais, estão incluídas melodias da sua autoria, designadamente o “Margaridense”, o “Maria Inês”, o “Maria Leonor” e “Marina”.
António Parreira transcreveu 180 fados, mas há os que são de seu especial gosto como, logo a abrir, o Fado dos Sonhos, de Frederico de Brito (sextilhas – heptassílabo), o “Varela”, “Alvito”, “Raul Pinto”, “Primavera”, “Três Bairros”, “Alberto”, “Pinóia” ou o “Carlos da Maia”, de quadras, quintilhas e sextilhas.
Uma das novidades deste livro é que as investigações de António Parreira, em diversos arquivos, nomeadamente na Torre do Tombo, revelaram que, além dos fados Carlos da Maia, de Quadras e de Sextilhas, respetivamente para a métrica de heptassílabo, “há também um de Quintilhas para a mesma métrica”, disse.
A obra “O livro dos fados – 180 Fados Tradicionais em partituras” é apresentada no Museu do Fado, a Alfama, em Lisboa, no próximo dia 14 de março, às 19:00. Lusa
Todavia, como exemplifica no livro, “nem tudo se canta numa melodia, e a cada melodia corresponde um tipo de estrofe e a respetiva métrica dos versos".
O Fado Adiça, de Armando Augusto Freire, popularmente designado "Armandinho", é cantável em quadras que tenham uma estrutura métrica de versos em heptassílabo (“setessílabo”, na gíria fadista), o Fado Azenha, de Frederico de Brito, é aplicável a sextilhas, na mesma métrica, o “Marana”, de Armando Machado, para quadras em dodecassílabo, e o “Maria Emília”, de Miguel Ramos, para quintilhas em heptassílabo, entre outros.
As melodias tradicionais fadistas aplicam-se aos três tipos clássicos de estrofes – Quadras, Quintilhas e Sextilhas – e às diferentes métricas de versos – alexandrinos, decassílabo, heptassílabo e dodecassílabo -, no caso do heptassílabo é também considerado o setessílabo, versículo.
A variante versículo, em que um apêndice musical é acrescentado à melodia, pelo intérprete, é contemplado em diferentes fados, nomeadamente no Menor em Versículo, atribuído a Alfredo Marceneiro, sobre o qual Fernando Pinto do Amaral escreveu “Fado da saudade”, criado por Carlos do Carmo, e que arrecadou, em Espanha, um Prémio Goya.
Com a variante de versículo são citados, entre outros, os fados Cruz de Guerra, de Miguel Ramos, para quadras, o “Maria Marques”, de Marceneiro, também para quadras ou, ainda, deste autor, o “Pierrot” para quadras, e o Bailado, para quintilhas.
No Fado Bailado, por exemplo, além da composição que lhe deu nome, cuja letra é de Henrique Rego, é também interpretado, entre outros, “Estranha forma de vida”, de Amália Rodrigues.
Para cada melodia pode-se sempre interpretar novas letras, desde que respeitem a respetiva estrutura estrófica e métrica, havendo ainda os casos, não contemplados neste livro, de poemas cantados no fado com música própria, muito habitualmente os sonetos - cite-se “Caravelas”, de Florbela Espanca e música de Tiago Machado, uma criação de Mariza.
“Além destes padrões há depois o da sensibilidade, o tom da melodia, isto é, escolher-se de acordo com o teor da letra - uma letra triste requer um tipo de cadência menor, diferente de uma letra mais alegre”, explicou.
Segundo o guitarrista, “este livro vai ser um instrumento de consulta, nomeadamente pelos mais novos, e, por outro lado, fixou-se em escrita de música os fados que, até agora, salvo raras exceções, estavam apenas na memória do meio fadista”, disse Parreira.
Professor de guitarra portuguesa no Museu do Fado, em Lisboa, António Parreira afirmou à Lusa que “há um rejuvenescimento de instrumentistas, interessados na prática fadista”.
Os três fados apontados como basilares e cuja autoria é anónima – Menor, Corrido e Mouraria – são também fixados pelo guitarrista.
Pai de dois guitarristas, Paulo e Ricardo Parreira, António Parreira considera que, “fixadas as melodias tradicionais, há toda uma margem à criatividade”, e defendeu que “este não é universo fechado”.
Prova disso mesmo é que, nestes 180 fados tradicionais, estão incluídas melodias da sua autoria, designadamente o “Margaridense”, o “Maria Inês”, o “Maria Leonor” e “Marina”.
António Parreira transcreveu 180 fados, mas há os que são de seu especial gosto como, logo a abrir, o Fado dos Sonhos, de Frederico de Brito (sextilhas – heptassílabo), o “Varela”, “Alvito”, “Raul Pinto”, “Primavera”, “Três Bairros”, “Alberto”, “Pinóia” ou o “Carlos da Maia”, de quadras, quintilhas e sextilhas.
Uma das novidades deste livro é que as investigações de António Parreira, em diversos arquivos, nomeadamente na Torre do Tombo, revelaram que, além dos fados Carlos da Maia, de Quadras e de Sextilhas, respetivamente para a métrica de heptassílabo, “há também um de Quintilhas para a mesma métrica”, disse.
A obra “O livro dos fados – 180 Fados Tradicionais em partituras” é apresentada no Museu do Fado, a Alfama, em Lisboa, no próximo dia 14 de março, às 19:00. Lusa
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Comentários
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#1
Luisa melo
2014-03-08 02:40
Parabens ao professor Parreira.Um saudoso abraco.
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