A "Perspectiva" de Sandra Correia cantada no Museu do Fado
Concertos - Junho 05, 2015


Sandra Correia tem uma voz grave, ligeiramente rouca, que no entanto não impede que todo o sentimento que brota das palavras que canta não nos atinja.
Sandra passa do fado tradicional que segundo afirma "é a sua praia" para cantar uma marcha "Domingo em Lisboa", uma homenagem a Maria Valejo, com a marcação bem castiça que a marcha exige.
Com "Cantiga do Mar" leva-nos por areias e marés, para nos trazer à realidade cruel com "Sonhos Quebrados", não deixando de lembrar que tem "Coração Vadio", porque embora amando quem a rodeia a cantiga sempre a chama e ela não resiste.
Sandra Correia foi apresentando os temas da sua "Perspectiva" ao mesmo tempo que foi lembrando episódios do seu percurso artístico, muitos relacionados com a realização deste trabalho.
Não é fácil definir, melhor adjectivar o modo de cantar de Sandra Correia. Tem uma boa extensão vocal ao nível dos graves mas não exagera porque conhece os seus limites.
Tem segurança e sobretudo confia nas palavras que conhece de cor e na voz que modula ao seu jeito, com ternura, não piegas.
Não há requebros porque não são necessários. A dor, a alegria, a tristeza ou a saudade que canta definem-se em palavras certas, precisas, agrestes por vezes, mas são aquelas e não outras, e são cantadas assim e não de outra maneira.
Uma palavra para os acompanhantes de Sandra Correia. Henrique Leitão, na guitarra portuguesa, Ivan Cardoso, na viola de fado e Paulo Paz no contrabaixo sabem dar a margem exacta à voz de Sandra, não a deixando só mas libertando-a para uma interpretação emotiva mas sempre segura.
Sandra Correia é uma voz do fado a não esquecer.