Zambujo: "Fazer o que mais gosto sem pensar em Top's"
“ A minha mãe era uma rosa, foi o meu pai que a colheu
Aqui está um botãozinho que aquela roseira deu…”
Alguma vez será permitido desaparecer o que resta do menino que tocava clarinete em Beja puxava a saia da avó para ela lhe ensinar estes versos da terra?
Obviamente que não. As ligações e as influências familiares são muito difíceis de se perder. No caso da minha avó, que teve um papel importante na minha educação, é de todo impossível.
Viveste e absorveste em suaves tragos os teus heróis musicais. Foi a partir desse misturar de sabores e saberes que moldaste a tua estrada musical?
O nosso trabalho vai, inevitavelmente, sempre sofrendo influências. É um desenvolvimento natural no processo criativo.
Tens semeado este caminho que veio do fado, sentes que a música elevada a património da humanidade continua a correr-te nas veias?
Obviamente. O fado tem sempre um grande significado para mim. Apesar do género musical que adoptámos a influência do fado está sempre presente.
Sentiste que não podias demorar-te porque tinha outros compromissos para além das casas de fado como o Sr Vinho?
Por mim ainda hoje cantava no SR Vinho. Mas, a determinada altura, tive que fazer escolhas para a minha carreira. Tornou-se impossível conciliar as duas coisas e pouco tempo restava para os meus filhos. Senti que deveria ser mais próximo no crescimento deles.
O que concluis depois de vários discos que, sem alarido ou pirotecnia chegaram sempre muito longe?
Que tenho de continuar a fazer o que sempre fiz: O que mais gosto de fazer sem nunca pensar em TOPs.
Assusta-te quando está tudo feito, tudo certo, as coisas deixam de ser estimulantes para ti?
Nada nunca está completo.
A passagem para esse estado de descanso e a monotonia que daí ressuscita pode matar a tua inspiração?
Como te disse, sinto sempre que nada nunca está completo. Há variadas coisas que ainda pretendo fazer ou completar.
Sentes-te um irresponsável por achares que o passado é inútil e o futuro tem tempo de se pensar?
Para mim não é ser irresponsável. Mas também não o sei classificar. É assim que eu encaro a vida e sinto-me bem com isso.
A tua vida, o teu brilho neste mundo difícil que é a música é um feliz acaso?
Tendo em conta que eu nunca pensei em nada disto, se calhar é. Ou não.
Tocas e cantas apenas para ti. Sentes-te egoísta ao pensar assim?
Só de pensar que teria de ser de outra forma fico assustado. A música e o processo criativo é só por si um ato egoísta mas que tem a generosidade de se tornar num “lugar comum”.
Queres que em Braga o serão na tua companhia seja como se de uma conversa entre amigos se tratasse?
Não espero outra coisa sempre vou ao cantar ao norte!