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Mariza: as várias camadas do fado no Meo Arena

Concertos - Dezembro 09, 2015
A manhã atipicamente calma em Lisboa contrastou com a agitação e grande movimento que, horas antes, já se gerava à volta do Meo Arena, em Lisboa.

Os cartazes onde o longo vestido vermelho se destaca não enganavam: a noite foi por conta de Mariza, a diva do fado que esteve na maior sala de espectáculos do país. Depois de uma entrada atribulada, devido a uma anormalmente grande fila para as bilheteiras, eis que o público lá foi chegando e acabou por preencher a quase totalidade da plateia e das bancadas.

Ao longo de cerca de duas horas de música, numa produção da PevEntertainment, houve espaço para vários géneros musicais com a inclusão de um tango e uma morna de Cabo Verde.

Mariza, que foi distinguida este ano com um Prémio Ondas, de Espanha, fechou a actual tournée com um concerto assente no seu mais recente álbum, "Mundo", lançado em Outubro. Sendo um álbum para mostrar o seu mundo, aquilo em que se tornou, o concerto acabou por se tornar também numa espécie de confessionário das dores e alegrias que Mariza carrega e que partilha com os milhares de fãs que a veneram e acarinham.

O concerto arrancou com um semblante carregado, o palco todo escuro, apenas um foco de luz a incidir sobre a cantora, também ela vestida de negro. Ouviram-se, nesta parte inicial mais sombria, ‘Fadista Louco’, ‘Dona Rosa’ e ‘Primavera’. Ao repertório de Amália Rodrigues foi buscar, também nesta fase inicial, os fados ‘Anda o Sol Na Minha Rua’ e ‘Maldição’.

A seguir, o espectáculo ganha uma dinâmica diferente. Com Mariza vestida de vermelho e mais luz em palco, um grupo de bailarinos acompanha-a enquanto canta ‘Missangas’. Antes de ‘Sem Ti’, Mariza partilha com o seu público que este tema lhe fora escrito por um amigo e que, de cada vez que o canta, se lembra do marido.

Neste concerto, o público por várias vezes sentiu que não sabia exactamente como reagir. Se, por um lado, Mariza ainda é sinónimo de «silêncio, que se vai cantar o fado», esta nova fase na sua vida artística, com o regresso aos discos depois de cinco anos de intervalo, parece pedir mais festa. «Sabem que gosto muito de moda e que costuma estar sempre vestida por João Rolo. Hoje estou vestida por David Ferreira. Tenho a certeza que ele vai muito longe; já participou na semana de moda de Nova Iorque e vai vestir Lady Gaga numa produção para a Billboard. E é filho do meu marido», partilha a cantora, sempre a puxar pelo público que a própria entendeu que não lhe estava a dar toda a energia que gostaria.

Sempre a contar histórias da família, Mariza lembrou o avô ao recuperar o tema argentino ‘Caprichosa’, de Froilán Aguilar, ‘Alma’, de Javier Limón, e a morna ‘Padoce’ que interpretou em crioulo de Cabo Verde e inglês, mais uma vez a pedir a “ajuda” do público. A diva moçambicana (filha de pai português e mãe moçambicana), criada no bairro popular lisboeta da Mouraria, tem neste africanizar dos fados tradicionais uma das suas mais peculiares características. ‘Barco Negro’ e ‘Paixão’ voltam a trazer toda a alma fadista ao Meo Arena.

Ao palco do Meo Arena, com Mariza, subiram os músicos José Manuel Neto, na guitarra portuguesa, Pedro Jóia, na viola, Yami Aloelela, no baixo, «que traz aquele balanço africano que eu adoro», e Vicky Marques, nas percussões. Cada um deles acrescenta ainda mais um pedacinho à magnitude da artista. Não podemos ficar-lhes indiferentes, são de um rigor e brilhantismo únicos.

As canções têm um peso e uma vida grandes que Mariza consegue imprimir a cada palavra cantada. Em ‘Rosa Branca’ Mariza corrige o “seu povo” para a reforçar que o verso não é como ouve quase sempre cantar. «Eu ouço ponha a Rosa Branca, ponha a Rosa ao peito e está mal, a canção não é assim. Vamos lá aprender para cantarem comigo: “Colho a Rosa Branca, ponho a rosa ao peito”.

Depois do encore, Mariza volta com a incrível letra de Miguel Gameiro, ‘O Tempo Não Pára’, que canta com o filho ao colo, enquanto em palco vamos vendo várias fotografias suas com o pequenito que, simpático, não se cansa de acenar e mandar beijinhos aos fãs da mãe.

Foi já na recta final do concerto que o público lá se foi soltando e correspondendo à energia que Mariza pedia. Chega, então, o momento solene da noite: ‘Gente Da Minha Terra’, uma música cantada para quem ela mais gosta: o seu povo e no meio dele. Mariza desce do palco principal, percorre as filas da frente e cumprimenta os amigos, enquanto ocupa um pequeno palco elevatório junto à cabine de som. E é assim que, com o público em pé, a dançar e cantar, que a fadista dá por terminado o concerto com ‘Saudade Solta’. Um grande espaço que, depois de uma grande confusão à entrada, mostrou o grande coração de Mariza.


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