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Amália Rodrigues - Someday

Discos - Dezembro 30, 2015
Valentim de Carvalho / 2015
“Someday” , agora editado, recupera o alinhamento original de “Amália na Broadway” que só agora chega em CD a Portugal. Isso e mais quatro versões inéditas.

Há coisas em que ninguém tem o direito de mexer. Um quadro que não pode ganhar um bigode; uma garrafa de vinho mais velha que os nossos pais, reservada para o nascimento do neto; uma música que jamais deve conhecer uma remistura. Tudo isto vai cano abaixo se a intervenção não tocar no conteúdo e, porventura, sirva para aumentar a memória generalizada em torno de algo. Neste caso de alguém: Amália Rodrigues. Qual seria a sua reacção se alguém lhe dissesse que ia fazer um remix de Amália? “Assassino”, diria, provavelmente. E dizia bem. Respire que não é isso que está em questão.

E Frederico Santiago, detentor de um enorme arquivo sobre a maior fadista portuguesa, pode bem ser apelidado de herói. Em Novembro de 2014 já tinha editado “Amália no Chiado”, com inéditos e novas versões. Seguiu-se “Fado Português” e agora “Someday”, filho directo de “Amália na Broadway”, disco de 1984 – apesar de ter sido gravado em 1965 com uma orquestra dirigida pelo maestro Norrie Paramor – que apenas tinha sido editado em vinil em Portugal e que agora nos chega em formato CD. Nunca será demais agradecer a Frederico Santiago. À sua custa, Amália continua entre nós. E com novidades.

O mesmo que nos admite que a ideia é continuar a lançar material perdido de Amália até 2020. “A Amália gravou imenso, fizeram-se os álbuns mas ficou muito material por editar, não só inéditos mesmo absolutos, sobretudo numa fase mais tardia da sua carreira, mas há muitas segundas e terceiras versões e, que no caso dela, são coisas novas, já que a Amália cantava sempre de forma diferente”, conta.

Quanto a “Someday” volta a abordar uma das piores fases da vida do ícone nacional...afinal de contas, Amália disse, à época, que ia para Nova Iorque para se matar. “Acreditava que tinha uma doença brutal…mesmo que ela depois tinha dito ‘nunca mais me matei’. Mais tarde encontrei uma carta no Museu Nacional do Teatro, escrita do quarto do hotel onde estava hospedada em Nova Iorque em que quase parece uma despedida, é uma carta onde ela diz quase no fim: ‘Continuem com este projecto’. Mais parece um testamento a pedir para editarem o disco”, confessa Santiago.
Pedido que agora só se reforça, sobretudo com as quatro versões inéditas de “Ai Mouraria”, “Solidão”, “Lisboa Antiga” e “Coimbra”. A isto junte-se uma série de takes em inglês, versões distintas que Frederico Santiago julga ter sido obra de Norrie Paramor para fazer “uma espécie de ensaio para habituar a orquestra à sua maneira de dirigir e para entrar com o canto da Amália”.

O que também não é a coisa mais vulgar do mundo é escutar a fadista a cantar em inglês. Será assim tão estranho? Frederico Santiago responde assim: “A voz da Amália é um milagre, não tinha limites. As pessoas ouvem e pensam e dizem coisas como ‘ah, isto está cantado à fado’, mas o que nos pensamos que é cantar à fado é a forma de cantar da Amália, o fado antes da Amália não se cantava assim, foi ela que trouxe esta coisa muito ondulada”.

É o mesmo que nos garante que material não falta e que vamos continuar a ter Amália por aí. “A Amália gravou três discos de folclore, dois com orquestra, um com guitarra, e estou a pensar juntar os três discos numa caixa, já estou a trabalhar nisso. Há três inéditos absolutos, um de cada disco e ainda versões alternativas. Além disso, vou juntar as três coisas que ela fez do Zeca Afonso e que acho que resulta muito bem ali”. Vamos a isso. 


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